sexta-feira, junho 24, 2005

Indiferentes impressões

O Presidente falando na TV para dizer que a corrupção está sendo combatida e que tudo está numa boa - a economia, os projetos sociais - enquanto o Congresso vira um ringue, deputados se degladiam e as CPI's se instalam. Dejà vu.

Carros-bombas explodindo em Bagdá. Mais atentados dos partisans de Saddam contra a ocupação bushiana e mais 35 mortos no último dia. Já virou rotina, não impressiona mais.

Uma quadrilha invade um condomínio no litoral paulista e faz um arrastão em sete apartamentos que estavam fechados. Normalíssimo, está previsto no nosso sistema de vida.

Na semana passada mesmo, um morador do bairro onde moro foi brutalmente assassinado, com dois tiros, quando ia à padaria comprar pão. A vítima era um idoso, tinha fama de "fofoqueiro" e a fofoca era que esse teria sido o motivo: ele estaria falando coisas que estavam desagradando à bandidagem local. Confesso que nem isso me causou impacto. Meu irmão me relatou o fato totalmente transtornado, pois ele vira o cadáver - foi à padaria minutos depois do ocorrido - e eu o escutava todo tranquilão.

Na Romênia, um padre e quatro freiras são indiciadas pela morte de outra freira. Eles a prenderam numa cruz, amordaçaram-na e a privaram de água e alimentos. Ela morreu de inanição após 15 dias. Opa! Isso não é normal!

O fato gerou polêmica no país com relação às práticas medievais toleradas pela igreja ortodoxa. Bom, meu interesse aqui não é questionar o que uma ou outra igreja tolera ou deixa de tolerar. Apenas atestar que o fato em si me causou espanto. E creio que isso foi por causa da crucificação em si. Em épocas passadas existiram, além de crucificações, outras formas de execução como empalamento, enforcamento, esquartejamento, decapitação. Formas de se assassinar brutais e sanguinárias sempre me causaram horror, e não me conformo em saber que isso ainda ocorre nos nossos dias. Acredito que nossa espécie tinha evoluído ao longo do tempo. Ou acreditava... Um outro ponto que me chamou a atenção é que o padre indiciado alegou que "lutava contra o diabo", pois a religiosa estaria possuída. Por isso ele não se arrepende do ato, pois alegou estar cumprindo a sua missão terrena.

Eu tenho plena consciência desse fenômeno que me ocorre - a indiferença diante a certos fatos do cotidiano. Chama-se blasé e é caracterizado como uma resposta comportamental do indivíduo frente ao conteúdo da vida na cidade grande, que é opressora e ameaça sua autonomia. Se um morador de uma metrópole reagisse adequadamente, com a mesma energia, aos estímulos que recebe diariamente, entraria em colapso. Um pensador alemão do começo do século passado estudou esses e outros fenômenos sociológicos. Trato de Georg Simmel.

Por isso que me alentou o meu espanto diante do fato da crucificação na Romênia. É um sinal de que não perdi totalmente a capacidade de me impressionar com todos esses acontecimentos que, para mim, são todos totalmente sem sentido. Mas qual é o sentido de tudo, afinal?

Eu não sei, mas tenho uma suspeita. Contudo, confesso me deprimir só de vislumbrar conjeturá-la. Acho melhor continuar indiferente.

5 comentários:

BR... disse...

Cara, pode ate ser fantasia ou passividade, mas acredio no Lula, acredito que o cara nao sabia de nada e que...nao podemos julgar um partido inteiro por uns e outros.

Anônimo disse...

xiiiii... meu coméntário sumiu! Chegou a ler? Bjos

Ivo La Puma disse...

Pior que eu também acredito no Lula... Mas que já vi essa cena antes, eu já vi. E acho que muito mais vezes do que acho que já vi.

Anônimo disse...

Olá amigo subversivo, peloq ue percebo, estamos todos queistionando nossa normalidade, ou o sentido de normalidade, isso também me preocupa, pois percebo que tamb´´em estou ficando duro demais, quase nada mais me abala, ja´está tudo tão normal... Acho que não tem muito jeito, só se acabar com tudo e começar novamente... retorno, gostei do teu blog.

Anônimo disse...

Bem, vou tentar reproduzir o comentário q fiz no sábado. Sei q parece bobagem, mas por inúmeras vezes tbém me sinto indiferente ao q ocorre. Numa cidade como SP onde tudo acontece, a impressão (horrenda) q tenho é q se eu for parar pra dar atenção a qualquer manchete brutal vou ficar louca. Eu sei, é um pensamento alienado, mas talvez seja uma defesa (incosciente). Mas concordo com seu parágrafo final. Talvez seja melhor continuar indiferente diante de determinados fatos... ñ sei se é egoísta pensar assim, massssss...
(PS - eu ñ tinha escrito nada disso... hahaha... mas li o texto novamente e foi esta a impressão q extraí desta vez.)