Ter sorte ou azar é coisa que vem de berço. A humanidade se desenvolveu até o momento de tal forma que poucos têm muito e muitos têm nada. Logo, sortudo é quem nasce em família rica. Como eu não nasci rico, me conformo com meu azar e sigo a vida trabalhando para sobreviver, ignorando esses lances de Mega Sena, promoções para ganhar milhões e qualquer outra gaiatice para tolher meu suado dinheirinho.
E veja como eu sou azarado. Fiquei doente de sexta-feira até domingo. Segunda-feira (hoje), acordei bonzinho, bonzinho, para trabalhar. Ah, comigo não tem esse papo auto-ajuda-calvinista. O trabalho enobrece o homem, Deus ajuda quem cedo madruga, a vida é o trabalho, etc. Quem cedo madruga ajuda a quem tem dinheiro não precisar trabalhar. Os sortudos ou os que nasceram em família rica, que são sinônimos, têm dinheiro, têm capital, e no nosso sistema o capital não trabalha. O trabalho que trabalha para o capital.
Mas há pessoas que não se conformam com esse azarismo de nascença. Há pessoas que querem ser ricas a qualquer preço. Eu sou realista, o trabalho não torna ninguém rico. É apenas um meio que nós inventamos para sobreviver. E eu também não estou falando de jogadores de futebol, cantores de música popular nem de top models. Eles são exceção à regra, pontos fora da curva. Estou falando daqueles que se conformam que trabalhando não vão enriquecer mas não desistem do objetivo, e também não caem na criminalidade. Pois os que tentam a sorte no mundo do crime, eu dedico um capítulo à parte, eu trato de maneira diferente dessas pessoas que falarei agora. Então, esses que desistem da via mais simples de levar a vida e procuram o enriquecimento, o status, a boa vida, uma vida parecida com a dos capitalistas, esses são os tais alpinistas sociais. Ouvi esse termo na boca da Taís Araújo, no Domingão do Faustão, sobre a nova personagem que ela vai interpretar na nova novela. O apresentador perguntou: "Ô louco! E aí, Taís? Sua personagem é vilã ou é mocinha?". E ela: "Ela não é mocinha, mas não é vilã, é uma alpinista social...". Caralho! É vilã ou não?!
Bem, geralmente, essas pessoas que buscam a vida boa, por outra via que não seja o trabalho, só buscam essa vida porque nasceram com a aparência física de maneira que é palatável aos padrões da nossa civilização capitalista. No popular, porque são gostosonas ou são boas pintas (vocês não acham que eu ia usar o termo "gostosão" né? sou machão!), são tipo belos para o gosto geral. São aquelas pessoas que tentam grudar num sortudo da vida, dando sexo em troca de vida boa. Quem usa sexo em troca de bens materiais é o quê mesmo? Ok, ok. Prostituir-se não significa sinal de vileza. Mas acho mais puras as meretrizes assumidas!
Olha, reconheço que meu fígado está doendo. Não era do fígado que sofri neste feriado, mas depois de tomar achocolatado à catarinense - sou palmeirense - e amargar mal estar no corpo e inflamação na garganta, meu humor está péssimo. Ainda, como disse no começo, porque hoje estou bonzinho, bonzinho de saúde. Quer dizer, ainda estou com tosse e a garganta ainda pega um pouco, mas tenho saúde suficiente para estar no batente. Mas garanto que não é inveja que sinto. Não desejo a vida boa e não me sinto inferior, por ser azarado, com relação aos sortudos. Já escolhi o trabalho como forma de levar a vida e não tenho ambições de enriquecer. Quero só poder sobreviver e dar um pouco de dignidade àqueles a quem eu for deixar o legado da miséria da existência. Porém reconheço que remo contra a maré. Olha, o Muro já caiu faz tempo, e eu não atiro pedras ao capitalismo porque quero o comunismo ou qualquer outra coisa. Atiro pedras porque têm que ser atiradas. É apenas uma questão de coerência com minha inteligência. Afinal, posso ser azarado, mas sou dotado da capacidade de pensar, tenho livre-arbítrio e tenho liberdade de expressão (importantíssimo esse bem!).
Mas me dói muito no fígado saber que sou ponto fora da curva. A maioria não critica os alpinistas sociais como eu critico. A maioria, quando podem, viram alpinistas sociais.
Confesso que minha maior frustração é não ser jogador de futebol. Seria a pessoa mais feliz do mundo se pudesse viver do futebol, mesmo se eu jogasse num time da Segunda Divisão. Com certeza, eu jogaria com muito mais raça e profissionalismo que esses pangarés que vestem a camisa do meu time (com exceção ao Marcos, infelizmente, o meu último ídolo). Eu tenho paixão por futebol, não pela fama, pelo status ou pelo dinheiro.
Ah, confesso também que meu fígado não doeria se meu time estivesse bem... Então me façam um favor. Ignorem tudo que escrevi.