sexta-feira, junho 17, 2005

Cúmplice perfume

"O amor que trago no peito
É carga pra mais de dez
Morena de endoidecer
Morena de endoidecer"

Morena de Endoidecer - Djavan

Está imerso em pensamentos. Meditando. Quase dormindo... De pé. Está num vagão do metrô paulistano rumo ao centro da cidade, rumo ao templo do deus mercantil que exige diariamente sua cota de sacrifício para sua manutenção. Do deus e dele.

Ouve as noticias matinais num walk-man. Escândalos nos porões do Poder. O tesoureiro do partido do presidente da república é acusado de comprar a fidelidade de deputados nas votações dos projetos governistas. O tal "mensalão". A política tupiniquim está em crise. Chiado... O trem acabara de entrar no túnel.

Mergulhado em sua mente, ele continua alheio a tudo. O trabalho, o escândalo, o chiado. Ele está longe, bem longe... E bem acompanhado.

Uma coceira nas narinas. Snif, snif! Desperta. Se vê no meio de um mar de gente. Suadas, taciturnas, apáticas. Cadê? Procura-a ali. Cadê? Snif, snif!

Não a encontra. Mas descobre o que o despertara. A moça a seu lado está usando o perfume dela. Sim, é o perfume dela! Nunca se esqueceria do odor. Todos seus maravilhosos momentos vividos com ela estão compactados em sua memória e ligados à percepção olfativa do perfume que essa moça a seu lado está usando. Quanta decepção. Por um momento julgou estar no paraíso...

- Que horas são? É a moça do perfume. Aponta para seu relógio.

- Como?! Fora pego de surpresa. Ah, sim... Tira o fone do walk-man e olha para o pulso. Sete e meia!

- Obrigada!

Que fragrância! Não se conforma de não a ter ali. Também não se conforma por não saber quando a teria novamente, se fosse tê-la. Olha a moça. É loira, bonitinha. Mas a vê morena, lindíssima.

- Me desculpe, mas que perfume é esse?

- Como?! Ele a pegou de surpresa agora.

- O perfume que está usando? É delicioso!

- Ah, sim... Cúmplice! Da L'Acqua di Fiori!

- Qual o seu nome?

- Graça!

Graça! Que graça! E que engraçado! É o mesmo nome dela...

Engraçado nada! Já há muito tempo que não acredita em coincidências. Vira-se de frente para ela e segura-a pelos braços. Tasca-lhe os lábios. Ela esquiva. Ou tenta. O vagão está lotado. Sua sorte é que no momento seguinte o trem para na estação e a turba que sai extrai o rapaz de seus lábios.

É a Estação Sé. Mas para o rapaz, é o Paraíso.

Ivo La Puma
Escrito em 07/06/2005

2 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkk.. adorei! Como aromas nos fazem viajar heim? Pena q nem sempre nos levam ao Paraíso. Bjos

Anônimo disse...

Qdo as pessoas são marcantes seus perfumes tb são...

Desculpe o sumiço. Tô na maior correria nessa vida... Comecei a trabalhar essa semana e tô sem tempo algum pra atualizar o meu blog... qto mais pra visitar os amigos...
Comigo está tudo ótimo! E com vc? Precisamos marcar outra cervejinha! :)

Beijo,
Dani