sexta-feira, dezembro 16, 2005

Con-sentimento des-sentido

Eu tinha seis anos. Ou por volta disso. É possível datar o dia, pois foi quando meu pai chegou em casa, após um dia de labuta, com o primeiro exemplar da revista Super Interessante, que tratava sobre o Big Bang, que me dei conta que estava vivo e, um dia, seria morto. Interessante. Não foi casual a dita revista começar com uma matéria sobre o começo de tudo...

E assim começou meu maior pesadelo. De uma só vez, entraram na minha cabecinha coisas como a infinitude do Universo e o que havia antes do Início. E de lambuja, entrou que eu não seria infinito como o Universo. Desde então, eu passei a temer o fim de tudo, entre eles, o mais genuíno dos fins - a morte.

Porém, eu não era apenas um medroso. Era teimoso. Teimei que poderia fazer algo para reverter essa situação. Planejei ser imortal.

Então passei a fazer de minha vida um instrumento para atingir esse fim. Todo o tempo do mundo, e que era pouco, estava destinado a meus grandiosos projetos - que deveriam marcar os corações de todos e assim garantir um registro de mim na eternidade. Alexandre, o Grande, era minha maior inspiração. Seus feitos seriam lembrados até o fim, e assim eu queria que os meus também fossem.

Sempre foi difícil essa empreitada. Sempre sentia o medo da morte. Sempre um vento aterrorizador soprava meu ouvido, lembrando-me que "nada do que eu fizesse iria adiantar". E nada eu fazia, de paralisia, quando escutava tais palavras. E sempre faltava pouco para eu entrar em colapso quando imaginava me tornando em nada. Meus nervos ficavam em frangalhos - a sensação que sempre me acompanhou.

Contudo, num outro dia desses - há pouco tempo - descobri que até o Infinito teria fim. Já havia descoberto antes que o Sol, a Terra, a humanidade, um dia acabariam. Mas o Universo, tinha para mim que era sempre eterno. Numa outra matéria de revista científica, li sobre as teorias do fim do Universo. Uma delas, versava que o Universo terminaria no Big Crunch, quando parasse de se expandir, pois se expande desde o início do início, e começasse a encolher, até o nada. Uma outra, dizia que o Universo acabaria quando se expandisse a tal ponto em que nada mais se movimentaria e nenhuma luz mais existiria - seria a sua Morte Técnica.

Mas mesmo assim não desisti do meu plano imortalizante. Os argumentos de que nada poderia ser imortal, pois tudo um dia acabaria, não foram suficientes para me convencer a desistir. O que me fez desistir disso foi quando, num outro dia, me dei conta que essa ânsia em ser imortal era a origem de algumas angústias minhas, que o não saber quando iria morrer, e se conseguiria finalizar meu intento, era o que me fazia fazer tudo precocemente. E isso me fazia sofrer.

Eu parei de sofrer, pois parei de ansiar a imortalidade. Porém, continuei sofrendo pois fiquei sem sentido para minha vida. Estava parado e minha bússola girava. De ímpeto, voltei a me movimentar. Ainda não sei onde irei parar, apenas que pararei.

Já conjeturei que não haveria diferença entre existir e não existir, já que tudo não existirá mais. Se tudo tem um fim ou se o fim é o nada, para quê viver? Porém, antes de perguntar "para quê", eu sempre perguntava "por quê" - foi há pouco tempo que passei a pensar nas finalidades, além das originalidades - e o porquê disso tudo que me intriga. Por que, então, existe tudo isso?

Eu sei que há um sentido para tudo isso. Do por quê até o para quê. Até para a minha vida. Eu só não sei o sentido ainda.

E o que sei também é que ainda hoje aquele vento atemorizante me é soprado. É o sopro que me mantém vivo. Ainda não desejo a morte.


Escrito em 15/12/2005

Inspirado no texto "Um pouco de realidade" do site Mimpormimmesm@ (http://www.didizinha.blogse.com.br/),
escrito por Didi Sandrini. É inspirado pois a idéia de escrevê-lo surgiu após a
leitura do referido texto.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Era desnecessário

"When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No I won't be afraid, no I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me"

Stand By Me - John Lennon

Há vinte e cinco anos, John Lennon levou um tiro à queima roupa. "O Pop não poupa ninguém", cantaram os Engenheiros do Hawaii onze anos depois. Abri meu e-mail com o resumo diário do New York Times (sou chique!) e pensei que leria esse fato na seção "On This Day". Li sobre os quarenta e quatro anos da declaração de guerra dos EUA ao Japão e a conseqüente entrada na Segunda Guerra do então Gigante Adormecido. No dia anterior, 07/12/1941, os EUA haviam sofrido o primeiro ataque da história a seu território, quando os kamikazes japoneses investiram contra a frota naval americana do Pacífico, estacionada em Pearl Harbor. Considerando que por causa desse evento, os EUA entraram e ganharam a guerra, levando como prêmio a posição de superpotência mundial, o ataque a Pearl Harbor foi importante para a história mundial contemporânea. Mas não é bem sobre isso que eu queria falar hoje.

Pelo que conheço de meu pai, Lennon era seu ídolo. Desde os seis anos, quando me conheci por gente, ouvia John Lennon em casa e no carro, no toca-fitas. Foi o primeiro músico que conheci e que admirei. "Stand by me" era a música que eu mais gostava. Tem também que Lennon foi meu primeiro ídolo musical que não vi vivo. Os quarenta e quatro dias que passamos na mesma terra não foram suficientes para isso.

Há dois anos atrás, mais precisamente em 07/12/2003, nasceu minha irmã, que ainda hoje não a vi ao vivo. 07/12, Pearl Harbor. O meu foi trezentos e sessenta e cinco dias depois, 06/12/2004, dia em que despejei minhas maiores bombas até então. Um dia que destrui meu porto.

(É porque algumas coisas são necessárias, outras não. Era necessário que eu bombardeasse àquela vez. Mas não é necessário o porquê eu não conheço ainda minha irmã agora. Sinto muito.)

Ainda não sei se falei o que queria falar hoje. Mas eu quero meu pai, minha irmã e John Lennon. E quero nunca mais precisar de um Pearl Harbor em minha vida.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Haikais de Mel

Tomei conhecimento dos haikais no ano passado, ao ler um romance de Érico Veríssimo, o "Senhor Embaixador". Nele, o protagonista trocava haikais com uma amiga japonesa em Washington. Isso porque ambos, no contexto da história, eram funcionários das embaixadas de seus países nos Estados Unidos. Recomendo esse romance.

Hoje, fuçando por ai, descobri um pouco mais sobre haikais. Trata-se de uma forma poética de origem japonesa. Há uns links abaixo que pesquisei, para quem se interessar. Como eu gostei bastante do estilo, resolvi começar a escrever alguns.

Então, eis "Haikais de Mel", que será uma coletânea de haikais. O link é http://haikaisdemel.blogspot.com.

Contudo, não serão haikais avulsos. Serão todos dedicados. Uma homenagem que presto a alguém especial.


Links:
1) http://www.paubrasil.com.br/haikai/
2) http://www.kakinet.com/caqui