terça-feira, outubro 31, 2006

Da minha estupidez

O ser humano é um bicho estúpido. É estúpido porque mesmo sendo a única espécie dotada da capacidade de raciocinar, comete atos irracionais. Porque é assim que eu distingo o ignorante do estúpido. O ignorante é aquele que ignora algo. O estúpido é aquele que se recusa a deixar a condição de ignorante. Um ser que se recusa a fazer uso de algo que lhe compete é o quê?

Estúpido! Esse ser, não você, quero dizer... às vezes eu também. Já reclamei algumas vezes de falta de sorte, porque não nasci rico, porque poucos são ricos no mundo - logo, nascer rico é lance de sorte. Estupidez pura. Pura falta de sorte é nascer sem saúde, e eu tenho todos meus membros, todos meus sentidos, nenhuma doença. Herpes? Pára, isso não é doença, não me impede de fazer nada.

Eis que me pego voltando à mediocridade, voltando à estupidez comum à espécie. Paro com tudo um pouco e raciocino, e chego à conclusão que não há problema nenhum para eu me preocupar. Não fui eu que fiz dívida, não fui eu que assinei contrato, não fui eu que joguei fora metade da minha vida no álcool, não fui eu que desperdicei metade da minha energia em nada. É meu o problema? Nem o problema da falta de sorte... (Sou sortudo!)

Mas como eu não sou estúpido, sou só em muita coisa, muito ignorante, parei com tudo. Não desperdiçarei mais nenhum fio de cabelo branco com problema que não fui eu que causei. Só sinto muito.

terça-feira, outubro 03, 2006

Apologia da corrupção

Os vírus existem, é fato, e causam o mal. Mas os vírus também propiciam a evolução, o que é um bem. Como? Bem, Biologia não é meu ramo, uma vez que sou tecnólogo de informática, por isso falarei sobre o mundo dos zeros e uns, os bits. Contudo, não acharei nada inverossímil se algum biólogo confirmar minha hipótese. Então, vamos à informática.

Os vírus de computador, essas pragas virtuais, são, essencialmente, programas de computador desenvolvidos com a finalidade de causar algum mal. Diferentemente dos vírus biológicos, os vírus eletrônicos são exclusivamente criados pelo homem, não são dados pela natureza. No entanto, apesar do mal que causam, os vírus expõem as fragilidades dos sistemas computacionais, permitindo que os projetistas percebam suas falhas e as corrijam. Portanto, permitindo que os sistemas evoluam. Oras, como qualquer empresa humana, os sistemas de informática têm falhas - aliás, dá para generalizar que qualquer sistema falha; por exemplo: o nosso sistema digestório pode apresentar falhas, como um refluxo, e o alimento não ser digerido a contento - contudo, e por ora, vamos ficar apenas no contexto da informática. Voltando, os sistemas têm falhas; umas são visíveis a olho nu, digo, podem ser notadas logo que o sistema esteja funcionando; outras, para serem expostas, necessitam de um aprofundamento na execução do sistema, necessitam de um vírus para corromper seu funcionamento.

Corromper. Corrupção. Eis o substantivo derivado deste verbo tão em voga ultimamente. Ponte para as ciências políticas: não seriam os agentes de corrupção da política os vírus deste sistema? Não serviriam eles para expor suas falhas e para permitir que nós as percebêssemos e as corrigíssemos? Como qualquer empresa humana, os sistemas políticos não são perfeitos. Porém, a democracia é melhor o sistema para a correção de suas falhas. Alguém lembra de algum escândalo de corrupção na ditadura militar? Como, se a imprensa não tinha a liberdade para apurar os desmandos do governo, se era censurada? Quando veio a redemocratização, perceberam que as entranhas estavam todas corroídas, todas corrompidas pelos vírus que nunca foram deflagrados. O penar que passamos hoje, com a nossa política contemporânea, vem do tempo perdido na apuração e na evolução de nosso sistema político. Somos democracia novamente há poucos vinte anos. Não é pouco? Lembremo-nos que os Estados Unidos são democracia há mais de duzentos anos, e ainda há falhas em seu sistema. Que falhas? O que se dizer do fato que o Bush levou uma eleição sem ter a maioria dos votos absolutos? Como refresco de memória, não se esqueçam de que nos Estados Unidos as eleições para presidente são indiretas. É um colégio eleitoral, eleito pelos representantes de cada unidade federativa, quem elege o presidente. Isso não seria uma falha? É discutível, mas pode ser uma falha, sim.

Voltando a nossa vaca fria. Eu penso que os escândalos de corrupção que estamos presenciando fazem parte do nosso processo de amadurecimento do sistema político. Está nítido que há muitas falhas, os escândalos, ou os vírus, estão as expondo. A imprensa, hoje com liberdade, está fazendo sua parte, está denunciando. E o governo também, pois não está impedindo que nada seja apurado. Afinal, o mensalão, o mensalinho, os sanguessugas e demais casos, estão sendo apurados. Diferentemente - e aqui que o buraco começa a ficar mais embaixo - de anteriormente, quando nada era esclarecido. E nada era esclarecido, e aqui vai a minha pitada neste tempero, porque a imprensa também não estava funcionando direito. A imprensa era leniente com o governo anterior (ou anteriores), e agora, que lhe é conveniente, está atuando pesadamente na depuração dos casos de corrupção deste governo. Pesadamente, porém, mui enviesadamente, porque até agora não vejo força em querer saber o que há no dossiê do dossiêgate, só em querer saber de onde veio o dinheiro! Um fato isolado, mas que expõe o tendencionismo da grande mídia. Ela tem um preferido, mas ela não deveria ter - eis uma outra falha do nosso sistema. E é por causa dessa sanha, aliás, um revival, pois nossa mídia sempre fora muito assanhada, que os últimos escândalos pintam ser maiores do que os anteriores, o que é falso. São maiores porque estão realçados, mas são do mesmo tamanho que de todos os outros.

Mas tudo bem, já fiz o meu rap, agora quero remeter ao título deste artigo. "Apologia da corrupção" é para provocar, sim. A corrupção é necessária pois sua depuração é necessária, mas uma depuração irrestrita. Depuração que está ocorrendo, mas que não acontecerá com a cachorrada de botar de volta os mesmo que mandaram e desmandaram desde que o primeiro português pisou por aqui. Se estou falando grego demais, basta então fazer um exame de DNA nos partidos políticos e procurar pelo gene ARENA.

E para finalizar poeticamente, quero aludir ao caráter subversivo dos vírus. Aliás, vírus subversivo é um puta pleonasmo, pois vírus que é vírus almeja a subversão do sistema; e sem eles, não há evolução. E parodiando o poeta (já que falei em português): Viver não é preciso. Mas subverter é, e muito preciso.

segunda-feira, outubro 02, 2006

Eu preciso escrever alguma coisa...

Acharam 1,7 milhões, em dólares e reais, com alguns petistas que queriam comprar um dossiê com supostas acusações de superfaturamento na compra de ambulâncias contra a administração de Serra no Ministério da Saúde. É o tal caso dos deputados sanguessugas e do Vedoin, o dono da empresa que vendeu ambulâncias para o governo FHC a crédito - ele acreditava que o Serra venceria as eleições em 2002 e pagaria depois. Mas o Serra não venceu, mas o Vedoin continuou a vender ambulâncias superfaturadas no governo do Lula. E o Lula que começou essa investigação.

Pois bem, estourou o dossiêgate e os tucanos aproveitaram e tentaram colar o caso ao presidente. Supuseram que o presidente sabia da compra do dossiê e iniciou-se o massacre. Com a ajuda da grande mídia brasileira, foi massacre com eme maiúsculo. Mas eu acredito mesmo que o que sepultou a vitória de Lula no primeiro turno foi sua ausência no debate da Globo. Agora ele pode mesmo perder, por uma estupidez dessas.

Mas tudo bem, a economia está melhor hoje do que há quatro anos atrás, a oposição diz que poderia estar melhor, e a grande mídia voltou a mostrar as suas garras. Não importa como anda a economia, importa é ter o poder político nas mãos, não apenas o poder econômico. O resultado do primeiro turno diz: é o Brasil rico, instruído, do sul, contra o Brasil pobre, ignorante, do norte. É a luta de classes, minha gente!

Eu acho que quem deu o tiro no próprio pé foi o próprio PT, com essa aloprada de comprar dossiê e com a falta ao debate do presidente. Mas me revira o estômago a cara Opus Dei desse Alckmin, o governador que alimentou a besta-fera PCC e que não pára de formar semi-analfabetos nas escolas, e me revira mais ainda a grande mídia só apurar de onde vem a grana do dossiê e não apurar o que há nesse diabo de dossiê. Por enquanto, o dinheiro veio legalmente, já o dossiê, continua no escuro.

É por isso que esse texto está revirado. Hoje de manhã escutei de um incauto: "se o Lula pode, porque o Maluf não pode?" Ele votou no Alckmin e disse que queria votar no Maluf, mas não votou. E eu não me contive e vomitei - bem aqui isso tudo que estava mal digerido em meu estômago há quase duas semanas.

Me desculpem.