sexta-feira, março 30, 2007

S.O.S. Carta Maior

O advento da Internet revolucionou, e continua a revolucionar, as nossas vidas. Como não é raro de ocorrer, a Internet surgiu com finalidades de guerra. Ela foi desenvolvida pelas Forças Armadas dos EUA no contexto da Guerra Fria. A idéia era manter o funcionamento da rede de computadores militares em caso de ataque soviético ao território americano. Com o passar do tempo, as universidades passaram a contribuir com o desenvolvimento da tecnologia, e quando a URSS caiu e a guerra acabou, a Internet se tornou pública, passando a ser utilizada inclusive com fins comerciais. Hoje, ela é um dos principais, e mais eficazes, meios de comunicação. Isso porque ela permite meios de acesso a informação muito mais democráticos do que os meios convencionais, tais como televisão, rádio ou jornal. Tal fato se torna tão evidente, pois hoje temos todos os grandes veículos de mídia com páginas eletrônica. Na Internet, hoje é possível ler o conteúdo de um jornal, ouvir uma rádio e até assistir a programas de um canal de tevê. O indivíduo pode ir a um cybercafé e com R$1,00 por hora ele acessa a Internet e a todo este conteúdo. Para assistir aos programas televisivos, o mesmo cidadão necessita antes desembolsar uns R$300,00 para comprar um aparelho televisor. Porém, ele só terá acesso aos programas das tevês gratuitas. Para assistir a programas mais variados, ele terá que gastar muito mais.

Bom, esta introdução serviu para falar da importância da Internet no cotidiano moderno e no papel que ela desempenha, permitindo o surgimento de meios de comunicação alternativos, o que contribui para o desenvolvimento da democracia, tanto aqui como em qualquer lugar do mundo. Nos últimos tempos, eu descobri a Carta Maior como um bom exemplo de mídia alternativa e democrática. Esta agência provê artigos de notícia, de opinião e de cultura gratuitamente pela Internet com muita qualidade. Entre seus colaboradores estão profissionais de notável saber científico e ilustres escritores, como o Moacyr Scliar. Assumidamente, a Carta Maior tem uma posição de esquerda no espectro político brasileiro, mas isso não significa que a leitura de suas produções deva se restringir aos que tenham formas de pensar parecidas. Seus artigos podem muito bem servir para os que pensam diferentemente, para quando se quiser obter uma visão contraposta.

Entretanto, tomei conhecimento que a Carta Maior passa por dificuldades financeiras (clique aqui para ler seu editorial) e pode vir a encerrar suas atividades em breve. Como, creio, eles não têm a intenção de deixar de ser gratuito, a melhor maneira de eles manterem suas atividades é conseguindo mais patrocínio. E para ter mais patrocínio, o veículo de comunicação tem que ter "ibope", ou seja, tem que ser acessado por um grande número de pessoas. Por isso, o maior ativo da Carta Maior, imagino, é seu cadastro de assinantes, que recebem diariamente um newsletter com um resumo e o link para todos os artigos que são produzidos pela agência.

É por isso que eu peço para quem tiver disponibilidade, que acessem o site da Carta Maior, analisem seu conteúdo e, se se sentirem satisfeitos, que façam o seu cadastro. Será uma forma de tentar manter este excelente meio de comunicação alternativo e democrático, que produz material não só em português, mas também em espanhol e inglês.

quarta-feira, março 28, 2007

Memórias de um camisa um

O Chico tem uma música, "Doze Anos", que é um sarro. Mais sarro ainda, foi eu explicando pra minha namorada o que é o teste da farinha... É que numa versão da música, tem um diálogo em que um pergunta ao outro: - "Ô Mangueira, você já fez o teste da farinha?". Bom, não vou explicar aqui o que é o tal teste, mas que esta música também meu deu uma saudade ingrata dos meus doze anos, quando dava banda por aí, fazia enormes planos e chutava bola (não lata).

Sim, porque meu maior plano, naquela época, era ser jogador de futebol. Sim, desde a tenra idade, dizia a minha mãe: - Vou ser o número sete do Palmeiras! Sim, porque eu gostava do número sete, e naquela época tinha um tal de Jorginho que jogava no Verdão com a sete, que eu gostava muito. Só que na época eu não sabia que o sete era o ponta-direita, e eu sou canhoto, logo, seria mais provável que eu fosse o onze. Apesar de que hoje a numeração não tem mais importância nenhuma no futebol. Porém, na época que comecei a jogar tinha, e todo time de categoria de base jogava no 4-3-3, com dois zagueiros e dois laterais atrás; um volante e dois meias na meio-campo; e dois pontas e um centro-avante na frente. E todo time de categoria de base tinha a mesma numeração, com o sete de ponta-direita. Mas as ironias do destino fizeram com que eu estreasse nas várzeas com a número um. Isso mesmo, eu era um goleiraço. Na rua, eu jogava em qualquer posição, e no meu quintal, jogava em todas as posições - porque eu jogava sozinho, chutava a bola na parede e fazias as plásticas defesas de fotografia para evitar os meus próprios gols. Quando eu me apresentei ao técnico dos mirins, disse que queria jogar na linha, mas estava faltando goleiro e minha mãe me dedurou: - Ele joga de goleiro! Eu, que nunca fugi de responsabilidade, fui para o sacrifício. Fui para as metas e no fim do campeonato me tornei o goleiro menos vazado do torneio. O troféuzinho lá no quarto é prova material deste pequeno feito.

E olha só a outra ironia. Este título me rendeu uma convocação para jogar no Corinthians. Só que nos treinos, por incrível que pareça, faltava um meia-esquerda, um camisa dez. Eu, que não fujo das responsabilidades, disse ao professor: - Eu jogo com a dez! Sim, eu, palmeirense, vesti a dez do Timão, e justo no ano de 1990, o ano em que eles foram campeões do Brasileirão... Mas eu não me importei com isso, pelo contrário, estava é muito feliz. Pois eu não só jogava de meia-esquerda, jogava de lateral-esquerdo, de ponta-esquerda, de quarto-zagueiro, de goleiro também. Sim, porque o professor sabia que eu era um jogador polivalente. E quando faltava jogadores nas outras categorias, ele me punha para completar o time. Teve dias que eu joguei três partidas seguidas. Eu não queria nem saber, queria era ser escalado, jogar e ajudar a equipe (olha o discurso de boleiro!)

No ano seguinte, não joguei mais no Corinthians, mas fui convocado para jogar em outra equipe da região, e continuei a disputar os campeonatos da várzea. Porém, voltei a ser arqueiro. Como disse antes, eu era um goleiraço. Até o fim de minha "carreira", fui o titular, o número um absoluto. Joguei até os dezesseis anos, quando mais uma ironia do destino me ocorreu. Eu parei de crescer aos cento e sessenta e cinco centímetros. Aí não dá. Nem Jorge Campos tinha essa altura. E estamos no Brasil, não no México, aqui tem goleiros muito bons. Logo, fui para o banco. Como nunca fui acostumado a este lugar, pendurei as luvas, as chuteiras e o meu grande projeto de ser jogador de futebol.

Por muito tempo, amarguei essa frustração. Hoje em dia, estou superando-a, mas o que não consigo superar é a ausência de material das lembranças desse tempo. Na época não tinha câmera digital, e teve que eu tive que enfrentar algumas adversidades, tais como uma pindaíba financeira e um pai alcoólatra. Deu que por muito tempo eu ia jogar meu futebol sozinho, sem um alguém conhecido que fosse lá para me assistir, torcer por mim ou registrar as minhas partidas. Tudo o que eu tenho desta época está aqui, nas minhas lembranças. Dá uma dor no peito... Lembro de algumas partidas, como a primeira da Copa São Paulo de 1994 e a primeira oficial pelo Guimarães F.C., um time lá de Ermelino Matarazzo, em que eu defendi uma bola rasteira dificílima no canto direito, e evitei a derrota de nossa equipe. Ou quando, no ano seguinte, fiz uma defesa de cinema, um chute da meia-lua, de primeira, no ângulo direito, em que eu pulei e, não espalmei, mas sim, agarrei a bola com as duas mãos, e como um gato, caí rolando e ficando de pé logo em seguida. Uma pintura. Fiquei semanas colhendo os louros por aquela defesa. E o melhor, naquele jogo ganhamos de 1 a 0, na casa do adversário. Ou seja, naquele dia, eu ganhei o jogo. Ou então, quando defendi dois pênaltis numa mesma partida. Num dos pênaltis, eu encaixei a bola, mas ela bateu na barriga, e até hoje eu sinto a ardência daquela defesa. Mas a ardência mais feliz da minha vida. Sim, porque o que eu gostava era de jogar bem, de fazer as defesas mais difíceis e salvar o time.

Que saudade ingrata! Olha, são tantas as lembranças que está difícil conter a emoção... Ah, como eu queria ter uma lembrança desses momentos e poder mostrar aos meus netos daqui a alguns anos! Ai, como isso me dói no peito... Só me resta fazer uma prevenção. Vai saber se um dia terei Alzheimer (toc, toc, toc) e não terei mais essas lembranças?

Eis o registro.

segunda-feira, março 26, 2007

Linguagem nova

programa terUmBomFimDeSemana() {

    selecione boa_saude, dinheiro_no_bolso, pessoa_maravilhosa
    de sua_vida
    onde tempo = "AGORA";

    se boa_saude = OK {
       se pessoa_maravilhosa = "AO SEU LADO" {
          // desconsidere dinheiro_no_bolso, é desnecessário...
          executar serFeliz();
          mostrar "Cara de sorte, hein?";
       }
       senão {
          se dinheiro_no_bolso > 0.00 {
             executar inventarCoisaParaFazer();
             mostrar "Com unzinho no bolso até que não é tão ruim...";
          }
          senão {
             executar chorarNaCama();
             mostrar "Companheiro, chora na cama que lá é lugar quente...";
          }
       }
    }
    senão {
       executar recuperarSaudeEmCasa();
       mostrar "Melhor sorte da próxima vez!";
    }
}

sexta-feira, março 16, 2007

Faço de tudo para elas

Desde sempre elas lêem o que escrevo. Elas simplesmente adoram. Ávidas, interpretam direitinho tudo o que escrevo. E, compulsivas, compilam e me respondem tudo, indicando os erros e o que tenho que fazer para corrigi-los e melhorá-los. Algumas vezes elas só indicam os erros, e cabe a mim a tarefa de quebrar a cabeça e descobrir o que fazer para melhorar. Elas são exigentes, sabe? Querem tudo rápido. O escrito tem que ser eficiente, não só bem feito - eis a arte! Elas têm que ler e entender o texto sem muitas delongas, por mais que com o passar do tempo elas estejam mais evoluídas.

Escrevo desde os seis anos. No começo era sem compromisso, uma brincadeira. Via meu pai escrevendo e, metido, imitava-o. Como não tinha muita base, no começo, eu só copiava dos livros. Depois, quando mais velho, aos quinze, aprendi algumas linguagens e comecei a escrever mais seriamente. Ainda brincava um pouco, por gosto, mas logo comecei a ganhar dinheiro com a brincadeira.

Hoje eu vivo disso, minha vida depende do que escrevo para elas - minhas clientes e leitoras fiéis - por isso escrevo todos os dias. E minha obsessão é melhorar cada vez mais para satisfazê-las cada vez mais. Por isso acato a todas as suas exigências. Comparar meu trabalho ao de um garoto de programas é injusto. Sou um verdadeiro analista, pois só eu consigo entendê-las realmente.

Se eu já sai com alguma delas? As daqui do trabalho é complicado, dá justa causa. A de casa sabe como é né? Sair por aí é arriscado, o mundo é muito perigoso. Por isso não saio com nenhuma delas. Mas quero comprar uma portátil...

Como? Mulheres?! Você está perguntando sobre as leitoras mulheres? Vixi... Cara, viajei! Pensei que você estivesse falando das máquinas... Do que você acha que eu estou falando? Sim senhor, sou um escritor. Escritor de sistemas de computador, ué? Literatura?! Pára! Escrevo uma rasura ou outra e gosto muito de ler, mas eu não sei nada sobre isso.

quarta-feira, março 14, 2007

Loas a Mefisto

Para que existir? Para que viver uma vida inteira e, no fim, morrer? Para que Deus? Para que existe tudo, o Universo, os planetas, os seres vivos, nós?

Lembro-me de uma história em quadrinhos, da editora Marvel, uma série chamada "Desafio Infinito". O enredo da história era o seguinte: a luta pela posse de seis gemas que davam ao portador poderes ilimitados, o que ensejou a confrontação entre todos os seres mais poderosos do Universo - neles incluso, os heróis da Terra. Um dos protagonistas da história, Thanos, um ser oriundo de um dos satélites de Saturno, havia conquistados as gemas, tornando-se o ser mais poderoso do Universo. Num dado momento da história, Thanos conversava com Mefisto, um ser imortal, parecido com um demônio, que o bajulava, mas que, implicitamente, desejava as gemas. O tema da conversa era sobre a razão da criação da espécie de Mefisto. A explicação: aplacar a solidão de Deus. Ele sentia-se completamente sozinho no meio de tudo, com todos os poderes, sem demonstrá-los para ninguém. Faz sentido. Não existe poder absoluto. Alguém só é poderoso se existir quem não seja poderoso. Então Deus criou a raça de Mefisto. Mas no desenrolar das coisas, eles se extinguiram, sobrando apenas o próprio Mefisto - para contar a história.

Eis a metáfora. Existimos para aplacar a solidão de Deus. Para atestarmos seu poder. E para temê-lo. Afinal, qual a graça de ser poderoso e não ter ninguém que o tema?

Mefisto me fascinou. Tanto que até um gato já batizei com seu nome. Ele era preto, tinha uns olhões amarelos, era demasiadamente preguiçoso e libertino. Uma personalidade tentadora, afinal, quem nunca pensou em ser Mefisto? Mefisto foi morto, atropelado ou envenenado, como a maioria dos gatos libertinos. Porque ser Mefisto tem lá seus bônus, mas tem também seus ônus.

Por favor, não praguejem contra minha prolixidade, ela tem motivos. Já perguntei muito sobre os porquês de tudo. Com o tempo, fui condicionado a perguntar os "paraquês". Mas no fundo, qual a diferença? Não sei as respostas.

Só me resta ser prolixo, com todos os significados que o verbete acarreta.

terça-feira, março 13, 2007

Heresias

A morte rondou por esses dias, mas não causou pânico. É o Medo da Morte que tem esse dom. Nem meia lágrima caiu, o que causou espanto. Espanto?! Nem isso, o flag da apatia estava on. Só quando o caixão fechou (ainda há coração!), mas foi só meia...

A morte rondou muito por esses dias. A cabeça. Deitada numa cama, pensando em muitas mortes, umas possíveis, outras não (oh que estupidez! morte impossível?!), pensando nas dores, nos sofrimentos... Deitada numa cama, tranqüilidade, de domingo esperando a segunda, a sensação de fim de mundo... Essa sensação não é boa, mas não é má, não causa pânico. O Medo da Morte, sim. Mas não dessa vez. Não dessa vez. O flag da apatia estava on. Quanta perplexidade! A foice dela ceifou perto. E inesperadamente. Mas era só apatia (coitada da tia...)

O que será isso? Destemor? Enfim, o Medo da Morte sucumbiu? Como? O fim do Medo da Morte não é o fim da vida, o começo da morte? "Gostando de viver e morrendo de medo de morrer. Morrendo de medo do Medo da Morte".

A morte ronda sempre. Estupram todo mundo nas guerras. Mulheres, meninas, crianças, até homens. No Iraque, soldados das forças de seguranças, iraquianas e americanas, estupram a roldão. Por quê? Tática de guerra. Quem estupra, domina. Quem é estuprado, é dominado. Leiam: "O estupro de iraquianas como tática de guerra".

O flag ficou off, graças a Deus (ai, meu Deus, que heresia!). Parecia que estava morto.