Entrou no buraco. Estava escuro.
- Ei, estou te vendo! Sai daí!
O menino chorava. Ele tinha medo de sair do buraco.
- Ei, a infância já passou! Já é hora de enfrentar os medos, se livrar dos pesos e viver! Vem!
O mundo é muito grande, os homens são todos grandões. O menino era pequeno, ele se via muito pequeno.
- Já és homem! Não vês? És forte, saudável, bonito! És inteligente! És bom! És grande!
- É mentira! Não sou! Aí fora é perigoso, eu só me machuco! Aí fora eles me pegam! Eles são fortes, são bons, são grandes! Eles são invencíveis! E eu não posso com eles!
E o menino continuou o choro compulsivo. Repulsivo. Rangeu os dentes.
- És tu! Tu! Tu que te vês assim: fraco, feio, pequeno, vil! Não percebes? És tu! Eles têm medo de ti! Porque és igual a eles e porque também és diferente! Eles não suportam essa diferença, não suportam que a ordem seja subvertida! E há outros que te admiram também, é tu que não vês!
Enterneceu.
- Vem, meu filho! Eu sou teu pai agora. Estou contigo, sempre estive. Espero ansiosamente por este momento. Vem, sai daí! Já é hora de viver!
O menino engoliu o choro e se levantou. Ele saiu do buraco e se viu de igual para igual ao outro que lhe falava. Ele viu que era o outro.
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