Rosa amava Cravinhos. Mas ele não demonstrava seu amor. Ela se aproximava dele e ele se afastava. Quando por força das circunstâncias não conseguia se afastar, ele tremia todo. E quando tinham que trocar algumas palavras era evasivo, frio, quase seco. Era assim porque temia ser humilhado. O Rosa era muito tímido.
Cravinhos amava Flores. E ela também não demonstrava seu amor. Ela era muito orgulhosa, fingia indiferença quando ele se aproximava. É que ele não a notava e ela não gostava de parecer que corria atrás de quem quer que fosse. Era assim porque temia ser rejeitada. A Cravinhos era muito orgulhosa.
Flores era um rapaz vistoso que sempre se fazia notar. Todas as moças do departamento sentiam-se atraídas por ele. E ele não fazia por menos, queria chamar a atenção de todas e queria atraí-las todas para a sua cama. Flores não amava ninguém.
Então o Flores quis a atenção de Cravinhos e passou a cortejá-la. Cravinhos caiu no ardil de Flores e se abriu feito uma rosa. E o Rosa, que sempre notou Cravinhos, notou tudo e só chorou.
Mas Flores não tinha sentimento, não amava ninguém e Cravinhos esperou que ele a amasse. Porém, ela não suportou a indiferença e se fechou, rejeitou Flores e ficou com os espinhos e seu orgulho. E o Rosa chorou mais ainda. Ele via o choro de Cravinhos, via que o choro não era por ele, e chorava. Só chorava.
Já saciado de Cravinhos, Flores foi cortejar Margarida, cujo perfume lhe era ainda inédito. Flores continuou não amando ninguém pois o tipo de sentimento que queria era de um tipo diverso. Cravinhos ainda amou Flores mas, por não suportar amar sem ser amada, conteve seus sentimentos e continuou sofrendo por não ter o amor de Flores. O Rosa também amou Cravinhos mas, por temer ser humilhado, continuou sem demonstrar seus sentimentos e a sofrer por ficar sem Cravinhos.
E assim, por toda a história, o amor não existiu. Pois o amor só acontece quando os sentimentos são expressados. Quando os sentimentos são contidos, são como se não existissem.
Assim como o amor de Flores.