quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O amor das flores

Rosa amava Cravinhos. Mas ele não demonstrava seu amor. Ela se aproximava dele e ele se afastava. Quando por força das circunstâncias não conseguia se afastar, ele tremia todo. E quando tinham que trocar algumas palavras era evasivo, frio, quase seco. Era assim porque temia ser humilhado. O Rosa era muito tímido.

Cravinhos amava Flores. E ela também não demonstrava seu amor. Ela era muito orgulhosa, fingia indiferença quando ele se aproximava. É que ele não a notava e ela não gostava de parecer que corria atrás de quem quer que fosse. Era assim porque temia ser rejeitada. A Cravinhos era muito orgulhosa.

Flores era um rapaz vistoso que sempre se fazia notar. Todas as moças do departamento sentiam-se atraídas por ele. E ele não fazia por menos, queria chamar a atenção de todas e queria atraí-las todas para a sua cama. Flores não amava ninguém.

Então o Flores quis a atenção de Cravinhos e passou a cortejá-la. Cravinhos caiu no ardil de Flores e se abriu feito uma rosa. E o Rosa, que sempre notou Cravinhos, notou tudo e só chorou.

Mas Flores não tinha sentimento, não amava ninguém e Cravinhos esperou que ele a amasse. Porém, ela não suportou a indiferença e se fechou, rejeitou Flores e ficou com os espinhos e seu orgulho. E o Rosa chorou mais ainda. Ele via o choro de Cravinhos, via que o choro não era por ele, e chorava. Só chorava.

Já saciado de Cravinhos, Flores foi cortejar Margarida, cujo perfume lhe era ainda inédito. Flores continuou não amando ninguém pois o tipo de sentimento que queria era de um tipo diverso. Cravinhos ainda amou Flores mas, por não suportar amar sem ser amada, conteve seus sentimentos e continuou sofrendo por não ter o amor de Flores. O Rosa também amou Cravinhos mas, por temer ser humilhado, continuou sem demonstrar seus sentimentos e a sofrer por ficar sem Cravinhos.

E assim, por toda a história, o amor não existiu. Pois o amor só acontece quando os sentimentos são expressados. Quando os sentimentos são contidos, são como se não existissem.

Assim como o amor de Flores.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Olhos lêem

Doze pares de olhos me observam
Será que escutam meus pensamentos?

Finjo, mas confesso que não sei dissimular
A mente voluntaria ao corpo não voluntariar
Sair correndo, chutando, esmurrando
Tudo que aparecer se manifestando

Finjo, mas confeso que não sei dissimular
A vontade de os vinte quatro espiões furar
Se escutam meus pensamentos, daqui não saio vivo
Se escutam meus...

(cabeça espatifada espalhando
miolos sangrantes no chão)

Escrito em 20/05/2005