segunda-feira, janeiro 24, 2005

Cavaleiro da Guerra

Cavaleiro da Guerra

Olha para trás,
vê como ficou tudo que deparaste.
Contempla o estado em que deixaste.
Só vês terra arrasada,
corpos mutilados,
mentes destroçadas.
Tudo causado por ti
com eficiência impressionante.
Ainda crês incapaz de fazer o mal?
Não imaginas trucidando,
torturando,
assassinando?
Ora, Filho, nasceste para isso!

O sofrimento dos outros não são os teus,
mesmo os causados por ti.
Só tens produzido dor a vida inteira.
Aceita que tens esse dom
e pára de te condoer.
Filho, pára de sofrer!

Não aceitas nenhum soberano,
não respeitas nenhuma hierarquia,
não admites nenhuma interferência externa.
Desfazes de alianças
ou sacrificas teu próprio território
apenas por vislumbrar ameaças a tua liberdade.
Achas-te político ou diplomata,
mas és guerreiro.
Destróis as coisas com muito mais naturalidade do que as constróis.
Talvez desejas a paz,
mas estás sempre pronto para a guerra.
Filho, tu és de Marte,
um genuíno general,
um anjo da guerra.

Queres ser livre?
Então te desprende dessa compaixão.
Vem e exerce plenamente tua liberdade.
Aceita tua missão e tua vocação,
toma o meu cavalo
e vai ser feliz!

Ivo La Puma, 06/01/2005

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Digressionando

Aos destemidos que lêem os meus textos, cabe uma explicação. Talvez tenham-se perguntado: "mas o desgraçado escreve poemas?".

A explicação é necessária, pois disse no primeiro texto desta coletânea, entitulado "Sobre o Diário" e publicado em 15/05/2004, que o escritor gosta do gênero prosa, mais precisamente de contos e crônicas. Isso é fato, e eu ratifico isso aqui mais uma vez. E anuncio, aproveitando o ensejo, que não gosto de escrever poemas. No entanto, isso para mim é como uma necessidade fisiológica. Escrevo poemas como se escarrasse ou vomitasse. Sim, essa é a melhor comparação.

Contudo, e mesmo concordando que eles são esdrúxulos, os poemas são autônomos. Eles têm identidade própria e são parte de mim. Esses poemas, apesar dos pesares, são meus, e expressam materialmente - vamos dizer assim - um sentimento ou pensamento meu.

Eu os acho horrendos, mas os amo como crias minhas.

Da Criação

Da Criação

Começa subitamente.
Um mal-estar.
Um embrulho no estômago.
Então vem o enjôo,
em seguida a náusea...

(indescritível)

Aí está!
Genuíno,
do âmago de mim.
Trazendo alívio...

Aí está o poema!

Ivo La Puma, 10/01/2005

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A Utopia da Liberdade IV (Eu não quero Deus)

a utopia da liberdade IV
(eu não quero Deus)

Eu não quero Deus,
quero um copo de uísque.

Quero me sentar numa poltrona,
ligar um som
e me abrir para as Portas da Percepção.

Quero olhar a vista pela janela
apenas para ver a chuva cair
e esperar ela terminar.

Eu não quero Deus,
mas quando a tempestade vem sobre a minha cabeça
eu rezo.

Imagino se eu não fosse racional.
Imagino se eu fosse uma besta,
movida a impulsos.
Percebo que nunca serei livre,
pois estou eternamente preso a minha consciência.

Que ironia...
Por ser livre para pensar, descubro que sou preso
e que nunca estarei realmente livre.

Eu não quero Deus
nem quero que a chuva termine.
Na verdade, eu não sei bem o que eu quero.
Apenas me sinto perdido.

Espera um pouco...
eu ainda quero um copo de uísque.

Ivo La Puma, 04/01/2005

terça-feira, janeiro 18, 2005

A Utopia da Liberdade III (Na trincheira)

a utopia da liberdade III
(na trincheira)

na trincheira
à espera do inimigo
o soldado imergia em suas angústias...
então virou-se para seu companheiro

- capitão! o que faz um soldado ao saber que está lutando uma guerra invencível?
o capitão olhou para o soldado e voltou a olhar para a frente à procura de inimigos
- ele cumpre o seu dever!

o soldado não se satisfez
ainda estava angustiado
estava numa guerra que sabia que não sairia
mas resignou-se...

então os inimigos vieram
chegaram à frente com suas baionetas
e a luta feroz se iniciou
e o soldado lutou!

infelizmente
o soldado tombou
fora atingido por um inimigo
mas antes de expirar
ele enfim compreendeu qual era o seu dever...

por mais invencíveis que sejam as guerras
um soldado deve sempre lutar!

ivo la puma, 23/12/2004 (ainda inacabado)

segunda-feira, janeiro 17, 2005

A Utopia da Liberdade II (Desmontando o Leviatã)

a utopia da liberdade II
(desmontando o leviatã)

os homens não nascem livres
pois se os homens nascessem livres
alguns deles não decidiriam livremente deixar de viver
já decidiriam não viver antes de nascer
a não ser que ser quase-livre é ser livre

portanto
não foi a liberdade que os homens deram em troca de segurança
quando resolveram viver em sociedade
pois eles nunca foram livres

aliás
é por isso que eles são quase-seguros
pois desde sempre
os homens são quase-mortos...
todo dia

ivo la puma, 22/12/2004 (ainda inacabado)

A Utopia da Liberdade (Um dia você se descobre infeliz)

a utopia da liberdade
(um dia você se descobre infeliz)

um dia você se descobre infeliz
não quer voltar para casa
não sabe aonde ir
não quer ir trabalhar
não sabe o que quer fazer
sente que não se identifica com os seus
mas não sabe o que quer ser

gostaria apenas de poder se desconectar do mundo
de reaparecer noutro lugar
noutro tempo
noutra vida
e esquecer tudo o que foi
o que passou
o que viveu

o que fazer quando a vida o põe assim?
ou o que fazer quando se põe assim na vida?

tudo a alguém pertence?
ou cada coisa é inapropriável?
inclusive os momentos que ainda serão?

é jus ao poeta não se conformar nunca
mas é possível viver assim inconformavelmente?

é possível viver assim?

ivo la puma, 21/12/2004 (ainda inacabado)