quinta-feira, setembro 10, 2009

Torcendo até o pescoço

Eu confesso. Eu torci pra Argentina. Torci mesmo! Sou fã de Diego Armando Maradona. Ele é o melhor jogador que vi jogar. Sou de 1980, não vi o Pelé. Eu sei que Pelé é o melhor de todos os tempos, mas não é o melhor do meu tempo. O melhor é Maradona!

 

Aquele golaço contra a Inglaterra. Pegou a bola no campo de defesa e avançou, em linha reta, atropelando todos os ingleses que ousaram se interpor o seu caminho, invadiu a área, puxou a bola para a direita com a perna esquerda e, meio quase caindo – gol! Golaço! Durante toda a minha infância eu reproduzi aquele gol nos gramados da minha fantasia. Ivo, o craque palmeirense, o camisa oito alviverde (Oito? Por que oito? Quando aprendi futebol, cada número tinha a sua posição. Não tinha esse negócio que nem hoje em que cada um usa o número que quer. O cinco era o volante, o oito o meia-direita e o dez, o meia-esquerda. O Pelé era meia-esquerda? Não era. Era destro. Ok, ambidestro. Eu sou canhoto, mas resolvi ser o oito.), o novo Pelé, que sempre que o time precisava de um gol redentor, pegava a bola do campo de defesa, partia pra cima dos adversários, invadia a área e – golaço! Aliás, acabei de me lembrar que já escrevi algo parecido sobre o Maradona por aqui.

 

Por isso torci pro Maradona. Não quero que ele fracasse no comando da Argentina. Quero que ele escreva mais uma dramática – e bela – página da história do futebol. Já pensou se ele conduz a Argentina ao tri? Ele, que há bem pouco tempo, estava à beira da morte, gordo e drogado? Já temos cinco estrelas. E é melhor ganhar a sexta em 2014, em casa, exorcizando o malfadado fantasma do Maracanaço, do que ganhá-la agora, em 2010, e correr o risco de sofrer outro trauma, igual àquele de 1950. Já pensou se a Argentina vira tri em cima da gente, e na casa da gente?

 

Fiquei condoído por Maradona. Vi em seus olhos que ele ama a Argentina. Não à toa, ele é amado pelos argentinos. Muito diferente daqui, onde esquartejamos os nossos ídolos. Vejam o Dunga. Eu, mais do que nunca, torço por ele, só para ver a cara quebrada de todos esses hipócritas que têm o arrebentado diuturnamente nas páginas midiáticas. Agora, com a Seleção dobrando os joelhos da arqui-rival Argentina, em Rosário, cidade sagrada do país platino, essas hienas estão todas risonhas, engolindo as merdas – a seco – que tanto produziram por todo esse tempo.

 

E por falar em ídolos e em jornalistas, essa é para acabar. Talvez mais alguém tenha percebido, mas durante a transmissão da partida, o renomado narrador global, após uma defesa do goleiro brasileiro, soltou um "São Júlio César!" São Júlio César? São Júlio César é o escambal! Tudo bem que o Galvão Bueno é um jornalista influente, muito criativo, cujos bordões pegam mesmo. É dele o "sai que é sua, Taffarel!" Assim como o "São Marcos!" Porém, Taffarel, além de ter saído em todas que eram suas, é o goleiro tetracampeão, e com três Copas no currículo. E Marcos é o pentacampeão, além de ter eliminado nos pênaltis o Corinthians na Libertadores por duas vezes seguidas, portanto, muito merecedor da indicação ao cânone da Basílica de São Pedro. Agora, São Júlio César? É campeão do mundo? Já eliminou nos pênaltis o Vasco na Libertadores ou o Milan na Champions League? Se a torcida nerazzuri assim o considerar pelo quarto scudetto seguido da Internazionale, pois bem, que o Galvonne Buonno o batize de San Júlio César! Porque aqui no Brasil, santo de luvas, só San Marco di Palestra Itália!

 

Um comentário:

Flávio Ricardo Vassoler disse...

Ivo, meu irmão:

O papel - ou a tela - para você se transfigurou em gramado etéreo.

"Durante toda a minha infância eu reproduzi aquele gol nos gramados da minha fantasia".

Belíssima imagem, parabéns!

Flavião