segunda-feira, novembro 27, 2006

O que vejo na mídia

Havia muita coisa sobre a qual eu queria dissertar por aqui. Por exemplo, o caso da morte da modelo anoréxica era uma. Queria discorrer aqui sobre a estupidez que, para mim, o mundo da moda representa na vida; sobre a relação deste mercado com o nosso tipo de sociedade; e sobre as psicológicas que essas pobres moças parecem apresentar. Eu vi muita coisa na mídia. Vi criticarem as agências irresponsáveis que mandam as moças para lugares onde os perfis dela não atendem as expectativas, a pressão que o mercado faz para que a modelos tenham cada vez menos peso, a falta de apoio psicológico para as modelos. Vi uma crítica velada à mãe, que não percebeu que a filha estava doente, e que deveria fazer algo para reverter a anorexia que a levava à morte. Pelo que pesquei, a lógica do raciocínio era a seguinte: as meninas são umas coitadas e o mercado, ou a vida, que é cruel. Apresento um contraponto. Não seria a modelo a responsável pelo seu próprio destino? Não era ela quem queria realizar o sonho de ser modelo e viver todo o glamour instituído a essa carreira? Ué, ela deliberadamente deixou de se alimentar para perder peso; acabou inconscientemente se suicidando.

E uma entrevista a que assisti no último sábado, no programa do Amaury Jr.m poderia ser outra coisa a comentar aqui. Não me lembro dos nomes, mas um homem idoso, mega-empresário, estava anunciando seu noivado com uma mulher muito - mas muito - mais jovem que ele. Bonita, também. Err... Um casamento que será por amor, suponho? Mas não seria isso que me faria disparar minha metralhadora. O que me deixou irado - sim, porque eu fiquei muito irado com este senhor - foi o seu comentário a respeito dos feriados (o excesso) que temos no país. Ficou implícito que ele se referia ao mais recente feriado em nosso calendário, o do Dia da Consciência Negra. Ele criticava os feriados, dizia que o país precisava de trabalho. É, o país precisa de trabalho, feriado é coisa de vagabundo, coisa de gente preguiçosa que nunca vai progredir na vida. Perdoem-me, mas foi isso que eu li em seu comentário. Não duvido que o referido senhor trabalhe, e que também já tenha trabalhado bastante em sua vida, mas ele é um capitalista. E o capital, minha gente, não trabalha, é o trabalho que trabalha para ele. Sua crítica era classista, a visão de quem está do lado mais forte da corda - olha o espectro do Marx rondando por aí. E eles têm tudo, têm poder, têm posses, têm a mídia (prestem atenção a quanto microfone há disponível para essa ladainha), e têm a grana. E o que o povo tem? Só a força de trabalho. Bem, tem também um pouquinho de liberdade, mas essa foi uma grande sacada da turma do capital, um bom assunto para crônicas futuras. Mas a real é que o povo só tem a sua força de trabalho, e olhe lá.

Mas como eu dizia, havia muita coisa que eu queria dizer aqui, mas há uma coisa que desde os fins das eleições eu preciso expressar. É sobre o meu descontentamento com a mídia em geral. Aliás, a mídia não deixou de estar presente nas duas coisas anteriores que falei. Aconteceu que meu dissabor com a grande mídia foi tremenda. A falta de compromisso com a imparcialidade dos veículos das parcas famílias que dominam a mídia brasileira ficou escancarada nessas eleições. Com raras exceções, todos estavam contra o Lula. Mas a população o reelegeu, e aí? A quem a grande mídia estava representando? E deveria ser assim o papel da mídia em nossa sociedade? Vejam, eu até concordo que cada veículo tenha a sua opinião, mas que esta seja expressa nos espaços editoriais, que os informados fiquem sabendo claramente que aquilo é a posição do dono do veículo. Mas não foi isso que eu vi. O que eu vi foi a opinião dos donos implicitamente expressas nas pautas, nas notícias, em todos os espaços noticiosos, onde não deveria haver parcialidade. Bom, pelo menos é assim que eu entendo jornalismo, a crítica num lugar e o fato em outro.

Novamente, este assunto rende muito texto, muita análise da história e do momento presente; só que serei prático, vou para as conseqüências - as minhas. Decidi por conta reagir a toda essa agressão que minha a inteligência sofreu neste últimos tempos. Cancelei minha assinatura da Folha de São Paulo, não assisto mais aos telejornais da Globo. Ainda ouço a CBN, mas com muita ressalva. Gosto do trabalho de alguns profissionais daquela emissora, como o Heródoto Barbeiro e o Juca Kfouri. E gosto também de ouvir o Carlos Heitor Cony, que sou fã, mas desisti de enviar-lhes meus e-mails críticos e desconfio de quase tudo que ali é noticiado. Em contrapartida, diversifiquei minhas fontes de informação, a maioria oriunda da Internet - o canal disponível que permite a maior democratização possível do acesso à informação. Como podem comprovar nos links deste blog, tenho buscado minhas informações e algumas opiniões nos blogs do Paulo Henrique Amorim, uma surpresa para mim; do Franklin Martins, o melhor analista político brasileiro; do Luís Nassif, o melhor analista econômico brasileiro; do Josias de Souza, que tem interessantes fontes de informação e pontos de vista; e do Zé Dirceu, que tem história, tem muito conhecimento da política e faz ótimas análises. Também visito freqüentemente o site da Agência Carta Maior, assumidamente de esquerda, mas que apresenta suas análises com muita ética, sem baixarias. Telejornais? Só os da TV Cultura. E gostaria muito de assinar a Carta Capital, que tem combatido o poderio dos grandes, mas não tenho tempo e dinheiro disponível para tal empreitada.

É claro que às vezes vou nos portais UOL e Terra, que zapeio em alguns telejornais da Record, da Band, de vez em quando dos da Globo, só para dar uma conferida, mas não os levo a sério. E, claro, às vezes assisto a esses programinhas banais de entretenimento, como o do Amaury Jr. Mas aí, meus objetivos são outros. Todos convivemos com pessoas de diferentes níveis culturais e de interesse. E conviver significa compartilhar, tanto o nosso tempo como a nós mesmos. É por isso que às vezes eu fico sabendo sobre o que a high society faz por aí, como ela desfruta das benesses que o capital lhe proporciona e outros assuntos afins a essa classe social.

Bom, aí está. As minhas pedras que há muito precisava atirar.

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