quarta-feira, novembro 08, 2006

Dia de palhaço

Este texto trata de um fato que ocorreu com este missivista, um fato que é passível de ocorrer com qualquer um que seja cidadão e consumidor.

Dos fatos.

São Bernardo do Campo, 24/09/2006, um domingo. Adquiri um PC HP 1230, processador Pentium 4, 512 Mb de RAM, gravador de CD/DVD e monitor Proview 17'' tela plana no Extra Anchieta, conforme Nota Fiscal número 142312 série 2. Fui para casa feliz e contente por ter adquirido o tão sonhado micro novo.

São Paulo, 28/09/2006, quinta-feira. À noite, em casa, entretido, eu configurava os softwares prediletos no computador, quando o monitor pifou. A tela se distorceu e nenhum dos controles de ajuste funcionou. Passaram-se mais de 3 dias da compra do equipamento. Não posso trocar na loja, tenho que levar na assistência técnica. Irritação, depressão, resignação. Passei por esses três estados até decidir ir a famigerada assistência técnica.

São Paulo, 14/10/2006, um sábado. Devido à inusitada situação de ter sido premiado com um monitor com defeito, e também por ter apenas o sábado disponível para resolver esses assuntos, apenas mais de duas semanas depois do monitor ter pifado, pude levá-lo lá, na tal assistência técnica, chamada Servicompo Eletrônica Ltda., localizada na Rua Itapura, 999, bairro do Tatuapé. Escolhi esta porque eu moro no Ermelino Matarazzo, bairro da Zona Leste de São Paulo, como o Tatuapé. Poderia ter escolhido uma outra, que fica na Penha, mais perto ainda, mas, por motivos que só os deuses sabem, fui a essa que descrevi. Fui lá, eles me receberam, receberam meu monitor e disseram que de 3 a 5 dias me retornariam. Até aqui tudo bem.

São Paulo, 20/10/2006, uma sexta-feira. Recebo um telefona da assistência técnica. Meu monitor está pronto, já posso retirá-lo. Oba!

São Paulo, 28/10/2006, sábado. Fui à assistência técnica retirar meu monitor. Não consegui. A empresa estava fazendo uma mudança naquele dia, eles não estavam com o sistema online, os equipamentos estavam guardados todos desordenadamente, disseram que não tinham como pegá-lo para mim. "Mas eu vim lá do Ermelino Matarazzo, vou perder a viagem?", dissuadi. Eis que ouço como resposta: "Por que o senhor não ligou para saber se podia retirar o monitor?". Como? "Estava na gravação da secretária eletrônica que hoje não teria expediente!". Sacrilégio! Eu não acreditava que ouvia aquilo. Retorqui. Disse que eu havia sido comunicado que o monitor estava disponível para retirada e que eu já sabia do horário de expediente aos sábados (até o meio-dia), logo não tinha motivo nenhum para ligar para eles. "Como é que eu vou saber que vocês iam fazer mudança hoje?".

Antes de concluir, apenas uma pequena explicação. Lembram que eu disse que só tinha os sábados disponíveis para resolver esses assuntos? No sábado dia 21/10 eu já tinha um compromisso inadiável, por isso eu estava lá no dia 28/10.

Pois bem, insisti que eu não poderia prever que naquele dia não haveria expediente, logo que não tinha culpa no cartório, e insisti que eu vinha de longe, que estava perdendo tempo e dinheiro ali. Nada, eles continuaram irredutíveis. Ok, resignei-me, mas não antes sem fazer ameaças. Sim, ameaças! Ameacei reclamar com o gerente da loja (não havia um responsável ali) e com o fabricante do equipamento. Então, uma funcionária não se conteve, catou a ordem de serviço das minhas mãos e disse: "então tá, vou buscar o seu monitor e daqui a duas horas eu volto!". Alto lá. Grosseria comigo, não! Catei de volta a ordem de serviço e fui embora, prostituto da vida. Meu dia estava só no começo, e eles não sabiam que eu tinha ainda que providenciar a festa de comemoração do meu aniversário lá em casa. Comecei o dia muito bem!

São Paulo, 30/10/2006, segunda-feira seguinte. Pus-me a cumprir as ameaças que prometi. Liguei para a assistência técnica para reclamar com o gerente sobre o ocorrido no sábado anterior. Um tal de Sr. Marcelo me atendeu. Como era de se esperar, ele já estava previamente inteirado sobre o ocorrido. Ouviu-me educadamente, mas discordou de mim, manteve o argumento de que eu deveria ter ligado antes para saber se poderia retirar o monitor "Mas isso é futurologia!", retorqui. Não recuou e ainda me relatou que uma situação semelhante ocorrera no mesmo dia com outra cliente e que esta ponderou que deveria realmente ter ligado antes para saber se no dia haveria expediente. Não deixei por menos. Mantive o argumento de que não poderia saber se haveria expediente, e disse que a loja deveria, e tinha os meios adequados, para avisar aos clientes que tinham equipamentos para retirar de que naquele dia não seria possível. Meios mais eficientes do que deixar uma gravação na secretária eletrônica da loja. Mas minhas reclamações foram em vão, assim como minha tentativa de convencê-los a me entregar o monitor em casa, como forma de me ressarcir pelo prejuízo que sofri. Apenas acataram minha versão de que foram grosseiros comigo no dia e prometeram sindicância, mas, como ironicamente disse ao Sr. Marcelo, só me restava voltar lá para buscar o monitor com um nariz de palhaço.

Então, fui cumprir a segunda ameaça. Liguei para o SAC do fabricante do monitor. Relatei os acontecimentos e registrei minha queixa - um monitor novo que pifa na primeira semana e um péssimo atendimento na assistência técnica. Prometeram-me que verificariam a ocorrência e me retornariam. Fui bem eloqüente. "Se vocês não me retornarem, ganharão um inimigo para o resto de suas vidas!". Estou esperando até agora esse retorno.

Eu havia imaginado que tudo isso poderia acontecer, que no fim, eu teria que voltar à assistência técnica e buscar meu monitor com cara de bobo. Mas como é amarga a impotência diante disso! Fiquei irado, desanimado. Senti-me mal. Mas já que eu não teria mais nada a perder...

São Paulo, 04/11/2006, o sábado seguinte. Ao entrar na loja da assistência técnica, pus na cara um nariz de palhaço (de verdade) e pedi meu monitor. Uma funcionária - a mesma que foi grosseira comigo - esboçou um sorriso, eu a encarei em seguida e ela baixou a cabeça se contendo. Os outros dois funcionários que ali estavam não sorriram, mas não ousaram me encarar. Fui atendido e, após receber o monitor, assinei um protocolo de recebimento e pedi-lhes um favor. Que deixassem uns panfletos, que eu trazia comigo, no balcão. É que eu disse a eles que havia feito cursos de adivinhação durante a semana, por isso pedia ajuda para divulgar minha novas habilidades (clique aqui para ler o panfleto). Agradeci e me retirei.

Eu não tenho dúvidas que eles morreram de rir depois que eu saí. Mas eu tenho dúvidas de que eles se lembrem que eles também são consumidores, de que algum dia eles estarão do outro lado do balcão, sendo feitos de palhaços. Lavei minha alma de cidadão consciente de seus direitos e deveres, mas só muita dose de propaganda negativa - contra essa assistência técnica, a Servicompo Eletrônica Ltda., e contra o fabricante, a Proview Eletrônica do Brasil Ltda. - para compensar todo prejuízo que sofri. Vejam bem, mais do que o prejuízo material, de ter perdido tempo e dinheiro indo infrutiferamente buscar meu monitor naquele dia, o que mais reclamo é o prejuízo moral, porque apesar de tudo, ainda disseram, e mantiveram, que eu deveria ter ligado antes para saber se eu poderia ir ou não buscar o monitor. Quer dizer, a partir de agora eu vou ligar mesmo, porque eu já não confio mais na competência de ninguém. Vai que para os demais prestadores de serviço, seus clientes sejam assim mesmo - um bando de palhaços e que devem se lixar se por acaso eles não são adivinhões. Se se desculpassem pela ocorrência, se me fossem compreensivos, eu não me zangaria. Iria ficar frustrado, mas saberia perdoar tal falha. Mas pelo contrário. Eles foram hipócritas, irônicos e arrogantes.

Agora é com vocês. Se algum dia já se viram em situação semelhante - passado como palhaço - então passe isso adiante. Se não, passe para a lixeira. Fazer o quê, aqui é uma democracia, não é mesmo?

3 comentários:

Soraya disse...

É realmente revoltante!!!
Já passei por coisas assim também!
Putz! Dá vontade de acabar com eles!!!
Obs: Não pude deixar de rir!!!
Vc foi ótimo!
Beijos.

Anônimo disse...

Caramba Ivo, você tava virado de raiva hein! Rs...quem te vê sereno no dia-a-dia, tranquilo, sossegado nem imagina..Rs...mas vc tá certo, coberto de razão!

Abraços velho!

Taylor.

Ivo La Puma disse...

Mas eu estive muito tranquilo e sereno! ;)