segunda-feira, maio 22, 2006

Eis a tristeza?

Abriu os olhos, viu o teto e se viu. Ela adormecia sobre seu peito. Estavam encobertos por um lençol e rodeados por suas roupas e toalhas. Estavam no paraíso.

Tudo estava bom, tranqüilo. Então sentiu medo. Porque sempre que tudo está bom e tranqüilo, ele se lembra que irá desaparecer, e aquele medo volta...

Então tudo ficou ruim. E ele ficou triste. Eis a tristeza? O medo de morrer já não devia estar superado? Percebeu que não. Olhou para o lado, ela ainda dormia, linda. Ela não tem medo de morrer. Só tem medo de como será a morte. Mas que raios! Ninguém tem medo de morrer?

Sentiu-se só. Poderia estar no meio de uma multidão e ainda assim sentiria-se só. Estava com a mais doce das criaturas ao seu lado, e sentia-se terrivelmente só. Sempre foi assim. Sozinho. Para enfrentar seus problemas e seus medos. Vai ver, todos seus problemas decorriam de seus medos. Seu único medo é a morte!

Eis a tristeza? Viver só, lutar só e morrer... Que vida vã! Lutar em vão... A morte é invencível! "A vitória contra um invencível só é possível sem lutar". Sem lutas, um invencível não pode derrotar ninguém...

Antes de voltar a dormir, pensou no momento em que o Sol se extinguisse e, com sua implosão, engolisse a Terra e todos os demais planetas ao seu redor, quando, então, se tornaria uma massa tão densa, com um força gravitacional tal, que nem a luz conseguiria lhe escapar. Eis o buraco-negro. E pensou quando todas as estrelas do Universo se extinguissem e se tornassem buracos-negros. Eis por que o Universo se acabaria numa Grande Implosão? Os buracos-negros se atrairiam uns aos outros até que o Universo voltasse ao ponto original?

Houve um tempo que só de imaginar que a Terra se desintegraria, o pânico lhe tomava conta. Hoje ele consegue refletir sobre o fim do Universo. Progressos? O pânico ainda toma conta de si quando imagina o seu fim.

Dormiu. Mas não sem antes pensar que para estar no paraíso é preciso estar morto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vim de blog em blog, de link em linnk e cheguei aqui.
Cara, são poucos os lugares em que chego e leio mais do que o último post.
O seu eu fui lendo, lendo (confesso que adorei aquele texto da Quadrilha).
Enfim, gostei muito daqui e pretendo voltar.
Um abraço,
Leandro

Anônimo disse...

Eu sei lá, tenho esse medo de deixar escapar pelas minhas mãos a felicidade... por isso nada de ver meu parceiro dormindo... não quero isso, cerro os olhos pra não olhar... tenho medo disso, das coisas acabarem... um medo absurdo. Da morte não, mais uma pra sua lista... rs
Bjos e valeu pelas visitas... seus comments são sempre edificantes, melhores, muitas vezes, que o próprio texto... rs