domingo, julho 17, 2005

"O amor bate na aorta"

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."

Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade

Hoje lembrei desse poema. Um stand off. Alguém aqui já jogou aquele jogo, jogado por e-mail, Diplo? É um jogo de estratégia onde cada jogador é uma potência pré-Primeira Guerra Mundial. O cenário do jogo é a Europa dessa época. Então os jogadores têm suas tropas para movimentar pelo cenário, e há um movimento em específico que acontece quando um exército em A quer ir para o território B, o exército em B quer ir para C e o de C quer ir para o de A. Nessa situação ninguém vai para lugar nenhum. É o stand off. Acho que sou a Maria.

Fui para casa conversar com meu amigo Carlos. E olha o que ele me disse: "sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será." E continuou: "O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste, meu filho, mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá." Como se vê, o meu amigo sabe muito - apesar de dizer que não sabe nada - mas, por outro lado, não te ajuda também.

Então, de Passport e vinho de garrafa de plástico, fui conversar com meus amigos Kurt e Humberto. Disse ao Kurt: "Preciso de um amigo agradável, com um ouvido para me dar!". Kurt me disse: "Eu sou o pior no que faço de melhor e para esse dom me sinto abençoado!". E Kurt começou a discursar e fiquei a escutá-lo por dezenas de minutos...

O Humberto ficou ali escutando-o também. Quieto. Ele nunca me diz nada, o que ele só diz é: "ouça o que eu digo: não ouça ninguém!". E o pior é que eu não ouço. Não sei dizer se seria melhor ouvir alguém mas, até hoje, eu mesmo tentei traçar as rotas que fiz, por mais que parecessem idiotas. Algumas vezes cheguei atrasado, outras vezes andei apressado. É que eu nunca soube que horas eram, nunca soube até que horas os relógios funcionariam. Talvez por isso o andar sem direção.

"Me passa o Passport!". Finalmente o Humberto me disse algo. "Ontem à noite", e continuou ele, "eu conheci uma guria. Já era tarde, era quase dia. Era o princípio de um precipício. Era o meu corpo que caia. Ontem à noite, a noite estava fria. Tudo queimava, mas nada aquecia. Ela apareceu, parecia tão sozinha. Parecia que era minha aquela solidão...". Houve um breve silêncio. Então Kurt passou a discursar novamente. Foram outras dezenas de minutos.

Como já era tarde, meus amigos precisaram ir. Não fiquei só, pois já estava só. Aquela solidão também parecia minha. A Maria ficou para tia, mas eu continuei como o exército que faz o stand off, porém "um exército de um homem só. Sem bandeira e sem fronteiras para defender, no difícil exercício de viver em paz."

"Essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca, às vezes sara amanhã". Era o Carlos. Havia esquecido seus óculos. E foi novamente.

Não dá para esquecer. Amanhã ela faria vinte e cinco.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sabe Ivo, tbém penso como o Humberto, o bom da arte são as diferentes interpretações q temos dela... e lendo este texto eu tive as minhas, particulares, que podem, ou melhor, que muito provavelmente não são as suas pq eu tenho uma grande tendência de ver tudo do meu jeito, à minha maneira, q nem sempre é a correta. E isto me remete ao teu 4º parágrafo, pois tbém tenho o vício de traçar as minhas próprias rotas... muitas vezes elas me levam pra precipícios, e mesmo debruçada neles ñ me dou conta e meu orgulho ñ permite q eu reconheça q peguei a estrada errada, wathever... deixa eu voltar pro seu texto sob as minhas impressões. A solidão persiste, mora dentro de mim... e mesmo rodeada de gentes, amigos, parentes, eu permaneço encerrada dentro de um quartinho úmido de cimento, sem luz e sem calor. AS vezes eu tenho crises de labirintite q sei, são puramente psicológicas e eu sei, tem coisas das quais nunca saramos, nunca mesmo.

Anônimo disse...

Acredito no amor, mas não em ser amada...
Também acho que sou Maria...

Anônimo disse...

Acredito no amor, mas não em ser amada...
Também acho que sou Maria...