terça-feira, junho 06, 2006

Transparência

Como todas as manhãs, olha-se no espelho. Essa barba já está grande. Mas não estou com saco de fazê-la. Essa olheira nunca sai daí. Adianta ir dormir mais cedo?

Ainda está nu, olha-se. Espera! O que é isso?

Apalpa-se. Cadê minha pele?! Cadê minha pele?!

Vê seus órgãos. O fígado é o mais feio, parece doente, mas não sente dor nenhuma. Sofro do fígado? Como o homem do subsolo? Preciso terminar de lê-lo...

Continua diante do espelho, perplexo. De repente, um desatino. Olha o coração, olha o estômago, tão frágil. Sou assim, frágil. Por isso tanta dor, tanto sofrimento. Não há couraça! Tanta fragilidade não pode ficar assim exposta... Eis a resposta! Por isso eles não sentem dor, não sofrem. Só eu que me exponho, que ponho tudo para fora. Quanto tempo será que ainda duro assim?

Veste-se. Não vou tomar banho hoje, está frio. E estou atrasado. Depois eu penso sobre essa revelação.

Como todas as manhãs, sai apressado.

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