quarta-feira, agosto 31, 2005

Rei se afogando

Tenho paixões inexplicáveis. Acho isso um puta pleonasmo, mas não consigo entender, por exemplo, meu fascínio pelas guerras. É um horror, mas me excito com os filmes que tratam sobre algum evento bélico da História. Vão vendo. Desde as aulas colegiais de História, sou aficionado pela história de Alexandre Magno. Li até uma biografia sobre ele, de tanta curiosidade. Era um livro fascinante que narrava, inclusive, suas principais batalhas com uma riqueza de detalhes que me fazia sentir estar presente nelas. Imaginava-me assistindo suas falanges, os elefantes montados dos inimigos e toda a carnificina produzida pelos embates. Ao assistir ao filme no cinema, anos depois, tamanha foi minha emoção ao ver as cenas como eu as via em minha mente que chorei... E as guerras reais, então? Quando eclodiu a Guerra do Golfo, lembro que perguntei a minha mãe: "É a Terceira Guerra Mundial?". Eu tinha (ainda tenho) um pavor do holocausto nuclear. Lembro até hoje das cenas do filme The Day After em que as bombas nucleares soviéticas devastavam as cidades americanas. Achava que daquele conflito poderiam sobrar bombas para todo o mundo. E minha mãe: "Não, essa é a guerra fria!" (Guerra Fria, mãe?! Já havia 2 anos que o Muro caíra...) Vê-se que não tínhamos noção nenhuma do que falávamos! E quando as Torres Gêmeas caíram em Nova Iorque? Lembro como se fosse ontem a adrenalina que me correu. Era a História acontecendo, ao vivo, e eu sem saber se era espectador ou figurante... Uma vez que hoje já temos o Jean como vítima dessa nova guerra, o máximo que dá para dizer é que os brasileiros estamos "incluídos" fora dessa!


Mas vejam. Me excito com as guerras não porque sinto prazer nelas. Mas porque elas me provocam fascínio. Contudo, da mesma forma que me atraem, elas me causam desespero e asco. Não teria coragem, a sangue frio, de empunhar uma arma e atirar contra alguém. Aliás, nem baratas mato a sangue frio. É que tenho tanta repulsa a baratas que as esmago com gosto, com sangue nos olhos... Mas voltando às guerras, não serviria para soldado. Por isso não entendo porque sou fascinado por guerras.


Contudo, mesmo assim e entretanto, sou fascinado por aviões de combate e submarinos. Sou daqueles que colecionam modelos de tais máquinas de guerra, daqueles de plásticos que se montam colando e pintando... Pois é, dizia eu no início que tenho paixões inexplicáveis, e caí nessa armadilha que me armei... Eu queria começar dizendo, justamente, que sou fascinado por aviões, e que ultimamente me via na seguinte situação: pilotando um avião que necessitava de manutenção para continuar voando. Problema: como realizar a manutenção em pleno vôo? Pousar está fora de cogitações, pois significa o fim da viagem. O fim!


Pois é. Me armei nova cilada. Não sei a solução para esse problema. Acabei suicidando o texto. Auto-xeque-mate!


Mas vamos lá! Deixa eu ver o que sei... Sei que tenho paixões inexplicáveis. Que vivemos hoje uma guerra, que talvez alguns a considerem a Quarta Guerra Mundial, se talvez o mundo sobreviver a essa. Sei que esse ano completo vinte e cinco. E aos vinte cinco, Alexandre era imperador do mundo, por isso era o Grande. É muito engraçado, olho minha história e vejo Alexandre! Pois, eu também conquistei o meu mundo. Sou hoje soberano, autodeterminado. Mas aos trinta e três, Alexandre sucumbiu. Não sabemos bem o porquê, mas sucumbiu...


Me parece que para não acabar como esse texto e como o conquistador macedônio, só me resta continuar pilotando o avião avariado, e buscar o empate por Rei afogado.

São Paulo, 30/08/2005

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu me identifiquei, especialmente, com essa admiração pelo que é horrível. Chamamos a bomba atômica de belo horrível, pois, ao mesmo tempo em que detrói parte significativa do mundo, atrai a nossa atenção. O século XX, de modo especial, foi o século do belo horrível. Para entendermos isso, basta assistirmos ao melhor documentário que já assisti: "Nós que aqui estamos, por vós esperamos", do Marcelo Maragão. O triste é que essa atração nos banaliza e banaliza o mal: "morreram três no acidente!" não assusta mais, para assustar tem que morrer três mil! E depois Três milhões e assim por diante. Eu gostaria de ter outras paixões, de encontrar mais o belo não-horrível, mas está difícil. Mesmo porque a mídia é regida, também, pela frase discutível: "Bad news are good news!", em outras palavras, tragédia atrai audiência. Abraços, Ivo!