quarta-feira, abril 20, 2005

20 de abril de 2005

20 de abril de 2005. O Papa é alemão. A China diz que não pede desculpas ao Japão e mantém os protestos. A ONU está no Haiti para avaliar a situação. Enquanto isso, em terras tupiniquins, há um recém-ministro sob fogo cerrado e a opinião pública opina - ou melhor, esbraveja - sobre a instituição do cargo de senador vitalício para ex-presidentes.

Sem dúvida o evento mais importante é a escolha do Papa Ratzinger. Me soa estranho quando dizem "eleição do Papa". Não quero de maneira alguma conjeturar que a Igreja Católica deva ser uma instituição mais ou menos democrática, mas eleições me lembram imediatamente democracia. E a Igreja Católica não é uma democracia. Ponto. Mas voltando... o mundo aguardou ansiosamente por Bento XVI. Ele está aí. É alemão e deve seguir a linha conservadora do Papa Wojtyla. Só não deve durar tanto tempo como João Paulo II. Afinal, já tem 78 anos. A não ser que consiga ser centenário para desempenhar um papado parecido com o do seu antecessor com relação ao tempo de duração.

Creio que ainda por alguns dias o novo Papa será repercutido nas mídias do mundo. Enquanto isso, nas notas menores dos jornais, a China não quer que o Japão tenha assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Para simbolizar isso, o consulado japonês é alvo de manifestações em Xangai. A política do poder. Uma nação armada nuclearmente e com poder de veto no grupo mais poderoso do mundo não quer dividir o seu poder com outra nação com a qual manteve relações de intenso conflito ao longo da história. E a questão nacional sempre presente nos conflitos. E há gente dizendo que os nacionalismos estão minguando. O Papa é outro, o mundo ainda não.

E enquanto tudo isso, os haitianos continuam seu triste desenrolar nesse mesmo mundo imodificado. Mais de 200 anos de história repleta de sangue e miséria. Freqüentemente reclamo da minha vida. Se eu fosse haitiano ia ver o que é bom para a tosse. Muito esbravejaram pelo Brasil ter mandado seus filhos, que não fogem à luta, para controlar a situação, que beira à guerra civil. Não há dúvidas que as intenções brasileiras estão voltadas para outro assento permanente no CS da ONU. Mas vejo com bons olhos essa ação. O Brasil está lá não para fomentar a guerra, mas para evitá-la. O ideal seria que nunca a força fosse necessária. Mas o fato é que a força é usada. Então que seja pela paz, ou para evitar a guerra.

Esbravejaram quando o Brasil foi para o Haiti e esbravejam contra os senadores vitalícios. A triste verdade é que a maioria dos brasileiros nem faz idéia do que está havendo. A vida do brasileiro é triste e ele já tem muita coisa com que se preocupar - como sobreviver - do que meter o bedelho nos assuntos dos políticos. Um velho austríaco, Schumpeter, a algum já dizia. O cidadão comum não se interessa por política. Outros assuntos prendem mais o seu interesse. O brasileiro não é diferente. Particularmente, não vejo nada de mais em fazer uso da experiência que os ex-presidentes acumularam com um assento vitalício no Senado. Concordo que não devam ter direito a voto nem que possam concorrer a outros cargos. Mas o Brasil que opina na política não quer saber. Acha desperdício de dinheiro e um absurdo a volta de algo parecido com os senadores "biônicos" da ditadura militar. O Brasil que opina - mas eu diria que pensa que opina - é o que paga os impostos. E é só para isso que tem prestado ultimamente. Não tiro a razão deles por tanta falta de fé nas instituições políticas nacionais. Eu também não tenho mais fé.

Como se vê, continuo antenado no mundo. E continuo dessintonizado. Não deixo de ter interesse por tudo isso, mas confesso que o fato que mais me interessou nas últimas 24 horas foi a derrota do meu time do coração. A verdade é que no fundo, meu coração, além de palmeirense, é bastante schumpeteriano.

Um último relacionamento que não tem relação alguma. O atual Papa é alemão e hoje um ilustre alemão faz aniversário. A verdade é ele não é alemão, muito menos ilustre. E já está bem morto - Graças à Deus!. Hitler nasceu num 20 de abril. Acho bom que tenhamos ele sempre em mente, para nos lembrarmos do que a humanidade é capaz de fazer. Afinal, o mundo ainda é mundo, ou seja, ainda vive em guerra.

São Paulo, 20/04/2005

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