terça-feira, outubro 28, 2008

Sobre uns fantasmas da minha vida

"I'm worse at what I do best"
Smells Like Teen Spirit - Kurt Cobain, Nirvana

Estive reunido com velhos amigos de infância neste último dia 25. Enquanto eles acompanhavam eu testemunhar mais uma volta que a Terra dava ao redor do Sol, conversávamos sobre as presepadas que aprontávamos, naquele tempo em que eu ainda não havia testemunhado nem metade das 28 voltas que estava testemunhando. Num dado momento, lembraram uma das minhas primeiras manifestações artísticas - falando assim, até parece que sou um artista genial - as minhas histórias em quadrinhos, que eu levava horas a fio para produzir, nas madrugadas em claro da minha pré-adolescência.

Já disse em alhures que eu tenho uma capacidade enorme de fazer coisas de que não sou capaz. Meus desenhos eram toscos, muito toscos. Eram grotescos. Eu não sabia nenhuma técnica de produção, muito menos tinha algum dom para o traço. Minhas linhas retas eram tortíssimas. Meus arredondados, achatados. Noções de profundidade e proporcionalidade? Nenhuma. Tudo era feito por pura intuição e força de vontade. Não sei se já disse antes, mas durante o primário, consegui a proeza de reprovar em Educação Artística. Por que raios eu me meti a fazer histórias em quadrinhos, então?

Uma certa vez, quando durante as férias escolares passei uns dias na casa de um tio, meu primo me mostrou uma história em quadrinhos que ele havia produzido. Era lindo, maravilhoso. Fiquei admirado. Quis fazer uma também. Se ele conseguiu, por que não eu?

Vejam, nunca quis me comparar ao meu primo. Não mesmo. Meu objetivo em fazer uma história em quadrinhos não era superá-lo, mas, sim, sentir o barato da criação, ter aquela satisfação em ver algo que eu mesmo havia produzido, algo bonito, com as próprias mãos. O meu objetivo era superar-me.

Só que os meus desenhos eram horríveis. A coisa mais inteligível que eu conseguia desenhar era um fantasma, bem parecido com o Penadinho, do Maurício de Souza, uma personagem que eu havia criado num exercício de redação do primário.

Por um bom período da minha vida, dentre os meus assuntos de menino, um tempo eu arrumei para produzir as historinhas da Turma do Alma Penada, que faziam parte o Mumático, o Esqueletóide, o Zé Boné; as clássicas partidas de futebol do Vila Cemitério, time da turma, contra o Ossos do Ofício, formado pelos defuntos-esqueletos; as paródias, ou cross-over, que eu inventava mesclando as minhas personagens com as dos X-Men, Cavaleiros do Zodíaco e Street Fighter. Uma época depois, influenciado pelas HQs do Homem-Aranha, que eu colecionava, criei o Formiga-Soldado - mas este herói eu nunca desenhei, porque realmente eu não tinha jeito nenhum para fazer desenhos complexos como os das revistas Marvel. O que eu fiz foi escrever os roteiros das histórias, e depender da boa vontade de um amigo meu que tinha o dom do desenho para produzi-las. Como não houve boa vontade... Hoje elas estão arquivadas na minha mala preta, nos confins do meu depósito. Raramente eu as visito. Não que eu sinta vergonha delas, pois tenho muito orgulho de tudo que produzo, apesar de quase nada achar bonito, considero-as como qualquer outra de minhas criações. Simplesmente porque não tenho muitas oportunidades de visitar meu depósito, não me sobra tempo.

Mas me sobrou um tempo hoje para falar sobre elas. Descobri que há gente que se importa com o que crio, o que sem dúvida me é muito animador e me deixa um pouco vaidoso. Apesar da única motivação para eu criar tudo o que já criei ser a satisfação em criar, é muito gostoso saber que tem gente que se interessa pelas minhas criações. Por isso resolvi falar agora das minhas histórias em quadrinhos. Que eu ainda não desisti de produzi-las. Desejo fazer uns experimentos, quando conseguir um tempo. Desejo fazer cartoons, como o Angeli ou o Iturrusgarai. Meu protagonista é o Ike, um mico, cujo objetivo na vida é escrever o romance "A Melhor História de Todos os Tempos"; até já escrevi alguns roteiros. Só falta desenhá-los.

Só isso.

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