terça-feira, setembro 18, 2007

Seleção subversiva

Acho que é inevitável. Depois de viver alguns certos punhados de anos, o indivíduo acaba se dando conta de que a vida é um processo, um sistema, com início, meio e fim, e com subprocessos que, algumas vezes, são cíclicos. Eu olho para a minha vida e vejo um sistema, vejo os processos que estão ocorrendo, vejo os outros que já se encerraram, e vejo uns que se iniciam e se encerram ciclicamente.

Dentre os processos cíclicos, vejo um processo que se dá da seguinte forma. O indivíduo recorre à sua base de experiências e formula (ou reformula) o seu planejamento para o porvir. Geralmente, este processo ocorre quando algum outro processo se encerra. Mas isso não é regra, pois este processo de recorrência às experiências passadas pode ser disparado a qualquer tempo. Creio que a regra para este disparo é quando uma grande decisão está para ser tomada pelo indivíduo. Mesmo que o revisitar das experiências passadas seja infrutífero, o processo ocorre, e algum planejamento é formulado para suportar a grande decisão a ser tomada (mesmo que a decisão seja nenhuma).

Estou beirando os vinte e sete, daqui a pouco Saturno me dá as caras e, logo mais, o dígito da dezena é incrementado. O tempo voa aceleradamente e a vida vai me escapando cada vez mais como areia entre os dedos. E quanto mais vai me escapando, mais vai me deixando marcas. As mesmas que marcam minha base de dados de experiências que eu tenho recorrido sempre que preciso formular ou reformular meus planos de vôo.

Estive executando este processo ultimamente. Estive relendo muita besteira que tenho escrito e publicado neste blog. Senti a necessidade de criar um índice para esta minha base de dados. Criei uma seção, ali à direita, chamada "Seleção subversiva". Não são os melhores textos que já escrevi, porque, tal qual um pai aos seus filhos, eu amo e considero igualmente todas as minhas criações. Mas são os textos que, de uma certa forma, marcam a história deste blog, que também não deixa de ser um processo, por si só, e um subprocesso da minha vida.

6 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada pela visita Ivo!
Descobri seu blog navegando por aí,e achei genial.O meu é pura bobagem,só alguns textos que acho legais de outros sites hehe
Linkei seu blog com satisfação =]
Vanessa

Thai disse...

É, não sei se posso afirmar que a vida é feita de experiências. Muitos fazem isso, e garantem que sim, quem não há outro meio. Que só existe aquilo que vivemos, que presenciamos, que acontece (denominam-se céticos, ou descrentes, ou qualquer coisa que queira ser contra a "ordem"). Eu não sei, gostaria de acreditar que existe muito mais do que nos é permitido sentir. Coisas "mágicas", sabe como é? E não falo exatamente em elfos e fadas (claro que não.).
Eu gosto do teu blog (e tu não sabes [ou não sabia, até agora] disso, pois não externo com comentários. Me basta acessá-lo de vez em enquanto para pensar "puxa, seria um pouco legal ter escrito isso (mas como eu sou eu, eu escrevo o que escrevo - que, por lógica, nunca será o que tu escreves [falo coisas muito tolas?]). Acabo o comentário aqui, na mesma hora em que me escapam as idéias.
Passe bem, caro Subversivo.

Fischer disse...

Pode ser, pode não ser... vamos ver... (típico de quem ainda não decidiu [mas só típico, nada mais :)])
Não sei como progridem as idéias. Isso supondo que há progressão (no sentido do tempo). Porque acho que (se é que há um tempo assim, em que podemos fatiar e tirar uma foto em qualquer instante [o que parece não haver; se quer saber, ainda não sei lidar direito com essas coisas, e muito provavelmente o que faço pode estar errado]) nem sempre uma idéia "houve". Talvez ela passe a existir depois de um certo tempo, mesmo que demore a ser criada e formulada exatamente (e mesmo que esteja sempre sendo aprimorada). Não falo das decisões surgidas dos processos, as quais se refere nesse post, mas sim das idéias como a idéia do post!
Talvez se possa dizer que a "veracidade" da idéia dependa de como foi formada, em vez de ela mesma. (Aliás, isso tem muito a ver com cálculo diferencial e integral. Mas talvez isso não te seja tão familiar.)
O que isso tem a ver? Ainda nada, eu acho, porque comecei a falar de outra coisa como se estivesse livre para escrever. Ou melhor, achei que fosse desembocar no pretendido, mas não achei ainda um caminho pelos vales.
(Então podes considerar somente o seguinte:) Acho que não somos processo porque (para mim, e isso só eu acho, e pode ser uma grande bobagem que ninguém teve coragem de me indicar por que) não somos assim tão independentes para poder agir em conformidade com a situação usando a nossa base de dados. Parece comum e certo pensar que temos reações, e que somos donos do que fazemos em algum ponto. Mas como sou fatalista (ah, que cara chato!), é isso que acho. Portanto, nada de processos, em nenhum caso análise de dados!
Outro argumento, e esse está me parecendo suficientemente bom (mas se fosse bom mesmo seria suficiente, se é que entendes o que quero dizer), é que teoricamente se sabemos o estado de partículas em certo instante poderemos calcular como será no próximo. (Isso teoricamente. Há coisas teoricamente possíveis que absolutamente não se sabe fazer. Mas são possíveis. [E inclusive acho que continuam possíveis mesmo que se mostre que não existe um método para fazer.]) Hoje, pelo que parece, há uma outra versão disso (quer dizer, é outra senteça, não é outra versão porque não é equivalente... só é algo parecido), que é conhecer as funções de onda das partículas. (Ou seja, saber a probabilidade de estar em cada ponto sabendo de um tempo anterior. [E como a anterior {e devia ter declarado isso!} depende de uma definição frágil como a de tempo. Mas acho que é em outro sentido, no sentido de vizinhança {bem, o universo deve ter alguma topologia que nos permita falar disso}, então acho que pode ser razoáveis as afirmações.])
Se isso realmente valer, então vale e nosso corpo é um aglomerado qualquer de coisas (é, 'coisas' mesmo) como qualquer outro conjunto de partículas (mais bonito que 'coisas'). Então seria muito de se esperar que pudesse tomar decisões.
Ah, e se o processo ocorre, como forma de interações físicas (químicas, elétricas) quaisquer, isso não tem muito significado. Não é um fim, é só algo que coincide de talvez acontecer, assim como coincide com o que você, por um total acaso mas ao mesmo tempo maravilhosa combinação, pensou do que seria um processo interno para decisão. E também acontece de você postar, e eu comentar, e isso parece lógico, mas é simplesmente (simplesmente simplesmente) o que acontece.
Algo tem significado? Parece-me que não. Mas fingimos que há uma lógica e que algumas coisas existem (essas maravilhas) para que possamos escrever em nossos blogs. Finjamos! (Agora me ocorreu que essa palavra pode soar como 'fujamos'. Independente disso, inventemos!)

(Nota: considerei a palavra 'desembocar' a melhor usada do comentário. A que melhor expressa, em suas letras, o que quis sugerir. [É bom achar uma expressão tão adequada; por isso essa notinha real.])

Ivo La Puma disse...

Se somos ou não processos (eu acho que sim), o fato é que somos sim independentes para agir conforme nossa base dados, ou mesmo conforme base nenhuma. Desde que nossa espécie "consquistou" a sua consciência, ela passou a possuir aquilo que chamamos de livre-arbítrio. O problema, a meu ver, são os artifícios que a vida em sociedade e/ou a nossa psique criam para não percebemos essa nossa independência. É aí que a porca torce o rabo!

Sobre cálculos diferenciais e integrais, há uns anos atrás isso me era familiar. Hoje já esqueci tudo! :P

Fischer disse...

Mas como podemos ser independentes se só há uma forma de agir? (Justo a que agimos!) Não acho que pode ser coerente termos muitas possibilidades e no instante seguinte termos a obrigação de algo (que já está feito).
Pensei naquilo da vizinhança que sugeri, e não imagino como possa haver a propagação da determinação pelas regiões contíguas. Daí não sei direito...

E será que a sociedade ou minha psique me engana? Pode ser, mas quero ao menos o direito de ser eu mesmo a minha psique. Sou meu pensamento, meu espírito (que se revela de alguma forma como meus dedos digitando, que na verdade são mais uma extensão). Aliás, existem coisas que são de alguém? (Já havia pensado nisso? Eu não.)

E você ou eu sermos processos é algo muito complicado! Defina processo!

Ivo La Puma disse...

... Caro Fischer, eu não tenho intenção nenhuma de fazer você, ou qualquer um, concordar com o que escrevo aqui. Se você não aceita a idéia de que somos um processo, bem, que posso eu dizer? Ser profundo não é meu forte. Na verdade, quando digo que "somos processo", eu quero dizer "podemos ser vistos como processos". Ver uma coisa como um processo, ou um sistema (dá na mesma), significa apenas ver uma representação da realidade, e não a mesma. Por isso que eu acho que somos um sistema (se você preferir, entenda: podemos ser visto como um sistema).

Contudo, a questão mais importante está no livre-arbítrio. E isso para mim é ponto pacífico. Eu não aceito a idéia de que não sou dono do meu destino. Portanto, desista de tentar me subverter! ;)