Tenho que contar essa. Não sei se vocês conhecem, mas existe um jogo de computador muito famoso, principalmente na Europa, chamado Championship Manager. Nele, cada jogador é um treinador, que começa em uma equipe e fica responsável por toda a parte administrativa e técnica de um clube de futebol. Ou seja, você contrata e dispensa os jogadores, define os salários, define os esquemas táticos, os tipo de treinos, pré-temporada e o que mais você imaginar que envolve o dia-a-dia do futebol. Não se trata de um jogo de futebol comum, tipo o Winning Eleven da plataforma Play Station, trata-se mesmo de um jogo de cálculo, de interface gráfica mínima. Quem não tem paciência não vai gostar nunca deste jogo. Mas quem tem, gosta e vira fanático, como eu, que jogo isso desde o ano 2000.
Pois bem, iniciei há uns meses um jogo que começava na temporada de 2003. Como sou palmeirense fanático, logicamente escolhi o Palmeiras para treinar. Como o jogo procura simular praticamente tudo, inclusive os nomes e as características técnicas dos jogadores e também a situação política e financeira dos clubes, minha primeira missão era fazer o Verdão voltar a Série A, já que em 2002, havíamos caído para a Série B.
O elenco era de razoável para fraco. De jogadores notáveis eu tinha o Marcos (goleiro), o Magrão (médio) e o Leandro Amaral (atacante), o resto era de mediano para ruim. Havia também o Juninho (médio-atacante), que estava emprestado, e iria demorar alguns meses para eu poder contar com ele para a temporada. Tive que promover uma grande reformulação no elenco, e ainda tive que conter o assédio dos outros clubes que queriam a todo custo me levar o Marcos e o Leandro Amaral. O assédio foi tanto que acabei sendo obrigado a negociar o Marcos, pois as propostas que ele recebia eram tão sedutoras que ele já estava desanimado por não poder se transferir. Fiz a vontade dele, mas acordei que ele só sairia ao final de 2003 e por uma boa bagatela (US$ 8M). Graças a Deus deu tudo certo. O Paulistão e a Copa do Brasil foram os meus laboratórios para dar uma cara ao time. Fiz uma boa garimpagem pelo país, botei meus olheiros para pesquisar promessas, jogadores com potencial e baratos, e para as posições mais delicadas, recorri aos empréstimos. Além disso, tive a sorte de fazer dois negociões, contratei sem custo Yan (médio-atacante) do Fluminense e o Deivid (atacante), que estava emprestado para o exterior mas tinha o passe preso a uma equipe pequena. Yan se tornou meu homem de confiança no meio-campo e o Deivid virou ídolo e jogador de seleção brasileira. Fomos campeões da Série B em 2003, voltamos à Série A no ano seguinte e dali para a frente foi uma coleção de títulos. Papei 3 Paulistões (2004, 2007, 2008), 1 Copa do Brasil (2006), 3 campeonatos Brasileirões (2005, 2006, 2007), 3 Libertadores (2006, 2007 e 2008) e 2 Mundiais (2006 e 2007). Fora isso, fiz o clube ter lucros, pois meus jogadores não tinham os maiores salários, o atrativo para eles era jogar numa equipe vencedora, ganhava muitos prêmios pelos títulos, e fiz diversas negociações milionárias, dentre elas o Juninho por US$ 14M, o Leandro Amaral por US$ 6M, Martinez (médio) por US$ 5M, e o Marcos, como já havia mencionado. A soma dos valores de venda dos jogadores era bem superior à soma que usei para investir na compra porque eu usava uma estratégia bem persuasiva para contratá-los. Quando aparecia a notícia de que algum time estava com dificuldades financeiras, eu ia lá e fazia propostas para os seus melhores jogadores. Como eles estavam na pindaíba, acabavam negociando por valores bem abaixo de mercado. Assim eu trouxe jogadores muito úteis como o Liédson (atacante), o Anderson (lateral-esquerdo) e o André Bahia (zagueiro), de equipes como Flamengo, Botafogo e Vitória, que no decorrer das temporadas padeceram financeiramente.
Pois é. Mesmo com uma administração arrojada e inovadora como essa, fui vítima da Turma do Amendoim. Devido a alta freqüência de jogos e às dificuldades que o calendário impunha, eu priorizei a Libertadores na temporada de 2008, para isso tive que escalar uma equipe reserva nas primeiras partidas do Brasileirão, que se iniciou concomitantemente com o torneio sul-americano. Resultado, faturei a Libertadores, porém, ocupava posições intermediárias na tabela do torneio nacional. Por causa disso, a torcida se enfureceu e boa parte dos jogadores se desanimou, eles acreditavam que a equipe poderia ocupar posições melhores no campeonato. As rodadas foram passando e, mesmo eu vencendo os jogos e chegando à quarta posição, a diretoria se sentiu pressionada e me demitiu. Simples assim.
Que gosto amargo que fica. Fiz um puta de um trabalho, ganhei um caminhão de títulos e fui demitido porque os torcedores estavam achando que uma troca de treinador seria benéfica para incentivar o elenco. Fui dormir ontem me sentindo um lixo. O que doeu mais é que foi com o meu time de coração, o meu Palestra querido.
Mas a vida continua, e eu tenho que seguir o meu curso. Pintou uma vaga para treinar o Vitória e eu fui aceito. O time se encontra na Série B e o elenco é muito pior do que aquele que eu encontrei no Verdão em 2003. Será um grande desafio, e por isso que estou animado. Para 2008, infelizmente não vai dar para promover o time para a Primeirona. Mas já estou reformulando o elenco pensando em 2009. Felizmente, uma parte do meu elenco no Palmeiras não está sendo aproveitada pelo Tite, o técnico que me substituiu lá. Já trouxe dois reforços, o Paulo Baier (lateral) e uma jovem promessa, o Nilton Ramos da Silva (médio-atacante). Além disso estou tentando trazer o Diego Cavalieri (goleiro) e o Ivan, um bom lateral-esquerdo, que não sei porque foi para o time de reservas. Com eles e mais algumas peças em posições específicas, e vai dar para fazer o Vitória voltar à elite em 2010.
Um comentário:
Ufa! Achava que o desfecho seria você se perguntando por que o Palmeiras não consegue obter os títulos de verdade, e imaginando-se na cadeira real de presidente.
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