quarta-feira, abril 15, 2009

Agonias

Hoje (logo mais), meu time jogará mais uma partida decisiva de sua história. Essa semana, um amigo meu completará trinta anos. Ano que vem, a maioria dos meus amigos de infância, anjos sem asa astros do rock e de demais presepadas, completará também trinta anos. No final do ano que vem eu completarei trinta anos.

 

Minha conta corrente está mais de três dígitos negativa. Por responsabilidade minha, mas não por irresponsabilidade minha. Formatei meu disco rígido e perdi mais de seis meses de fotografias e vídeos familiares. Por responsabilidade minha, e também por negligência. Um profissional da tecnologia da informação como eu nunca poderia fazer operações arriscadas com uma máquina, sem antes fazer as cópias de seguranças necessárias dos arquivos vitais. Há algum tempo que todo o santo o dia eu não deixo de pensar no dia em que eu vou morrer, nos dias em que meus filhos nascerão e naquilo que estarei fazendo para ganhar a vida, tanto econômica como espiritualmente. Ainda não fiz vinte e nove, mas Saturno tem cochichado alto em meus ouvidos, reclamando de mim a vida que tive até aqui e a vida que terei até sua outra volta.

 

A vida do indivíduo moderno é de pura agonia. Hoje entendo porque tanta gente sucumbe deprimida. São muitas as coisas com risco de se perderem. São muitos os medos. Se o indivíduo não tem uma certa estrutura, entra em pane. No entanto, no entanto, não me imaginaria vivendo em outras eras, menos agonizantes, porém, com menos ciência e ciências. Viver todos os dias plantando e dando parte do que é produzido a qualquer que um que se outorgou rei pelo fio da espada e viver todas as noites rezando e esperando o juízo final, para cuidar da alma, meu único bem, já que o corpo nunca me pertenceu? Não concebo. Assim como não concebo, ainda nos dias de hoje, os homens viverem como aqueles dos tempos medievais, degolando, empalando e incinerando seus semelhantes, sem o menor respeito a Deus, a Saturno ou a qualquer quem seja que tenha criado a vida. Até tenho meios para entender esses processos, mas me recuso a entender, me recuso a crer que algum ser humano seja capaz de cometer tamanhas monstruosidades. Um certo "churrasquinho no presídio" que circulou pela infovia atormentou meu sono por esses dias.

 

Acho que já sei o que direi a Saturno quando ele chegar. Direi a ele que não quero mais ser rico, como quis quando não tinha nem dez anos. Só não quero um tracinho antes do valor da minha conta, para eu poder trazer um mínimo de bem estar aos meus familiares. Direi a ele que não quero pompas, nem glórias, nem diplomas, nem troféus ou medalhas de ouro. Apenas quero fazer aquilo que gosto, fazer o melhor que eu puder sempre e sempre poder superar meus próprios limites. Direi a ele que encontrei o meu caminho (ou acho que encontrei) e que desde já aqui existe um homem preparado para ser feliz, apesar da certeza de que um dia desaparecerá e, bem provável, sem conseguir deixar uma marca eterna neste mundo que também desaparecerá. Sim, eu sei, ele também sabe, este é um caminho de riscos. Mas para mim está mais do que provado que viver é se arriscar.

 

Assim como o meu time, também jogo partidas decisivas da minha história. Apenas me parece que, daqui para frente, serei eu que jogarei mais partidas decisivas do que o meu time, praticamente uma em cada dia da minha vida.

 

Enquanto vamos, enquanto vou, pelo menos hoje (ou logo mais), quando surgir o meu alviverde imponente naquele gramado que a luta o aguarda, nenhuma outra agonia da minha vida será mais importante do que esta partida. Avanti Palestra!