segunda-feira, janeiro 28, 2008

"Ode ao mestre dos zumbis"

Primeiro foi o pavor que senti depois de assistir ao Chamado. O filme terminou tarde, eu estava com sono, mas, curioso, quis vê-lo até o fim, para saber o desfecho da história de Samara. Qual desfecho? Fiquei sem saber de nada, só com as imagens do filme na cabeça e com medo de adormecer. Eu, que sempre durmo no breu total, fui obrigado a deixar a porta aberta, para que alguma luz pudesse entrar e me tranqüilizar.

Depois foi o cheiro que senti depois do pesadelo da última noite. Sonhei que zumbis me perseguiam e quando despertei, ainda tinha nas narinas o cheiro dos cadáveres. Nunca senti o cheiro de um cadáver, mas nem quero cheirar de novo. Fiquei enjoado e com medo de dormir e ser perseguido novamente. Ainda eram quatro horas, dali a uma hora teria que levantar para mais um dia de labuta. Estava com muito sono ainda, não tive escapativa. Adormeci novamente.

Agora é este vazio. Este vazio que nunca sai, porque nunca algo entra para ocupá-lo e que eu sei que nada nunca o ocupará. Acho que sou um fraco. Não aprendi ainda a lidar com as minhas fraquezas. Fico angustiado, deprimo-me, desgasto-me muito facilmente. E se eu fosse um zumbi, algo que já estivesse morto, e pudesse assistir ao meu corpo definhar e apodrecer conscientemente? Eu não sei o que aconteceria, eu não sei como faria. Eu só sei que conheço um zumbi.

"Vocês querem ver sangue, corpos desnutridos. Querem sugar todas as almas num gole de uísque sorvido. Mas não vão conseguir evitar a sua sede de carnificina, injetar a heroína, num corpo que dorme sem dormir." Este é um trecho de "Ode ao mestre dos zumbis", canção do meu amigo Arce, com quem, e mais quatro amigos, formamos os Anjos Nephelins, banda de rock de garagem que tivemos dos quatorze aos dezoito anos, que também já teve outros nomes. Esta música me veio agora da memória. É uma canção que fala sobre traficantes e viciados em droga, que não é bem exatamente sobre o que estou falando agora. A minha fraqueza não é droga nenhuma, muito menos uso qualquer uma delas para ocupar aquele vazio supracitado. Mas a música me veio da memória, e com ela a idéia de que talvez sejamos mesmo todos uns zumbis. Que assistem a seus corpos definhar e apodrecer conscientemente.