quarta-feira, setembro 26, 2007

Se meu fígado falasse

Eu já sei que não sou o homem das palavras belas, das idéias brilhantes, dos discursos irrepreensíveis, do carisma arrebatador. Pelo contrário, eu sou impopular, meu discurso é estreito, é maniqueísta, é preto ou branco ou zero e um. Minhas idéias são medianas e minhas palavras são lugares comuns. Aliás, é isso, eu sou um homem comum.

Ou melhor, sou mais que isso. Ou menos... Eu sou pior. Eu tenho dificuldades em ordenar as idéias. Mal consigo capiturá-las e bem tento expulsá-las. Já passei muito vexame. Um amigo me disse uma vez que talvez eu tenha dislexia. Será? Oras, por que não? Se eu vivo a provar consistentemente que sou incapaz de ler e compreender todo esse mundo, toda essa gente, todo o santo dia...

Ah, um dia eu me canso. Sim, me canso, e desisto de resistir ao fato de que os sessenta, setenta, oitenta, ou sei lá quantas dezenas de anos que estarei por aqui nunca serão mais que nada, mas nem um nada a mais, diante do resto de tempo que ainda há por vir. Me canso e paro de querer apreender essas idéias que nunca consigo, e dou um jeito de voltar à ignorância inicial.

terça-feira, setembro 18, 2007

Seleção subversiva

Acho que é inevitável. Depois de viver alguns certos punhados de anos, o indivíduo acaba se dando conta de que a vida é um processo, um sistema, com início, meio e fim, e com subprocessos que, algumas vezes, são cíclicos. Eu olho para a minha vida e vejo um sistema, vejo os processos que estão ocorrendo, vejo os outros que já se encerraram, e vejo uns que se iniciam e se encerram ciclicamente.

Dentre os processos cíclicos, vejo um processo que se dá da seguinte forma. O indivíduo recorre à sua base de experiências e formula (ou reformula) o seu planejamento para o porvir. Geralmente, este processo ocorre quando algum outro processo se encerra. Mas isso não é regra, pois este processo de recorrência às experiências passadas pode ser disparado a qualquer tempo. Creio que a regra para este disparo é quando uma grande decisão está para ser tomada pelo indivíduo. Mesmo que o revisitar das experiências passadas seja infrutífero, o processo ocorre, e algum planejamento é formulado para suportar a grande decisão a ser tomada (mesmo que a decisão seja nenhuma).

Estou beirando os vinte e sete, daqui a pouco Saturno me dá as caras e, logo mais, o dígito da dezena é incrementado. O tempo voa aceleradamente e a vida vai me escapando cada vez mais como areia entre os dedos. E quanto mais vai me escapando, mais vai me deixando marcas. As mesmas que marcam minha base de dados de experiências que eu tenho recorrido sempre que preciso formular ou reformular meus planos de vôo.

Estive executando este processo ultimamente. Estive relendo muita besteira que tenho escrito e publicado neste blog. Senti a necessidade de criar um índice para esta minha base de dados. Criei uma seção, ali à direita, chamada "Seleção subversiva". Não são os melhores textos que já escrevi, porque, tal qual um pai aos seus filhos, eu amo e considero igualmente todas as minhas criações. Mas são os textos que, de uma certa forma, marcam a história deste blog, que também não deixa de ser um processo, por si só, e um subprocesso da minha vida.

quinta-feira, setembro 06, 2007

A volta do mala

Eu sempre pensei em ser escritor, desde pequenino. Eu pensava em escrever um romance, quer dizer, ainda penso, mas conforme fui crescendo, fui gostando mais do estilo crônica. Acho que por causa de uma deficiência intelecto-temperamental minha: não tenho paciência para produzir algo tão grande e demorado. Por isso que quando criei este blog, meu objetivo era dar vazão a esse anseio. Aquilo que antes eu escrevia em papel, ou que guardava em arquivos txt no meu hd, seria publicado aqui. E por ser o formato blog bastante eficiente para a publicação de crônicas, ficou perfeito para mim. Talvez eu não seja o escritor que eu imaginava que seria quando moleque, mas que eu escrevo coisas, eu escrevo. Não posso me negar.

Bom, mas por que eu estou dizendo isso? Ah sim, lembrei... Estou dizendo isso, porque com o passar do tempo eu percebi que escrever, para mim, era como uma necessidade, dessas do tipo fisiológica. Sim, isso mesmo. Descobri que escrever uma crônica me dá tanta satisfação quanto a que sinto depois que vou ao banheiro. Aliás, muitos textos que já publiquei aqui se originaram nos períodos ociosos em que fiquei lá... Tudo bem, podem fazer o trocadilho. Podem falar que muitos textos meus parecem uma merda mesmo, eu não ligo. Muitas vezes eu também acho isso. Mas voltando. Quando fico muito tempo sem escrever, como neste último período, (será que alguém percebeu que eu fiquei muito tempo sem escrever nada?), eu me sinto mal. Sim, mal mesmo. Acho que eu me acostumei a vomitar tudo aquilo que me incomoda nestes textos, e algumas coisas têm me incomodado nos últimos tempos, e eu não estou tendo muito tempo para organizar a coisa toda num formato literariamente aceitável. Quer dizer, até agora, pois consegui um tempinho hoje.

Então, como eu dizia, eu estou muito incomodado com que eu vejo, ouço ou leio por aí. Quero dizer, eu estava. Acho que estou encontrando o meio de lidar com essa situação. Vou dar um exemplo. Domingo passado, salvo engano de memória, assisti no Fantástico a uma reportagem sobre a molecada permanecer tanto tempo conectada na internet e os efeitos nocivos que isso tem causado à vida deles. Assisti à reportagem atentamente. Todos os moleques (e molecas também) entrevistados eram branquinhos, usavam uniformes escolares bonitinhos, estudavam em colégios particulares e moravam em apartamentos bacanas. Não tinha um adolescente negro ou pardo (acho estranho essa terminologia, mas é do IBGE), um aluno de escola pública. Todos eram de classe média. Cocei a cabeça e me sacudi todo no sofá. Não me contive, bradei: "Não tem pobre nessa matéria, não?" Minha namorada, que estava sentada ao meu lado, se assustou. "É, só tem moleque riquinho aí, por quê? Pobre também não se vicia em internet?" Ela deve me achar uma mala sem alça, porque eu vivo resmungando na frente da tv. Ela já me disse que eu implico com o Willian Waack sem motivos. Mas eu acho que não é sem motivo não...

Tudo bem, pode ser que na referida matéria tenham descoberto que o fato, o uso abusivo da internet pelos adolescentes, não ocorram com a turma das classes D e E pelo motivo mais óbvio: eles não têm computador em casa. Mas se for isso, tinham que dizer na reportagem. O Brasil não é composto em sua maioria por estudantes branquinhos, com cara de almofadinha, que moram em apês bonitinhos, que tomam café da manhã todas as manhãs e que vão a escolas particulares, em veículos particulares. Pelo contrário, estes são a minoria. Logo, a minha conclusão é: a tv, ou melhor, a grande mídia, porque eu ponho no meio todo mundo, rádio, jornal e revista também, não se preocupa em passar um retrato da realidade. Na minha opinião, aquela matéria era interessantíssima, poderia ser muito melhor explorada. No mínimo, teria-se que abordar o comportamento internético de toda a juventude. No mínimo, porque se poderia aprofundar muito no tema e, por que não, apresentar conclusões sobre o problema. Mas parece que o negócio e fazer o jornalismo-entretenimento. Aquele que não informa nada, só faz pensar em nada.

Ah, mas existe muito mais coisa que eu tenho entalada aqui. Sim, muito mais. É que se eu continuar, eu vou perder o foco do texto. Mesmo por que, eu já cumpri meus objetivos por ora. Já escrevi alguma coisa e pus para fora algo que me incomodava. Mas ainda vou tratar sobre essas outras coisas no futuro. Ah, vou sim. Como eu disse acima, eu estou descobrindo uma maneira de lidar com isso. E uma pequena amostra desta descoberta é a nova seção de links "Variados" aqui ao lado. Como podem perceber, trata-se de um grupo de sites onde tenho ido beber minhas fontes de informação. As que mais confio, diga-se de passagem.