quarta-feira, janeiro 31, 2007

Guerreiros têm medo

Ontem à noite eu sonhei que ia para a guerra. Eu estava de farda, me despedia da minha mãe e embarcava no encouraçado da marinha que me levaria à batalha. Eu queria muito estar lá, achava que seria uma experiência muito rica. Mas eu já não queria mais, estava com medo. Estava com o pressentimento de que iria morrer.

Ontem à noite eu guerreava no computador. Eu era o líder dos japoneses. O ano era 2029 e minha nação era a mais poderosa do mundo, posição alcançada há muitas décadas. E desde essa era, não houve mais momentos de paz. Fomos sempre perseguidos pelas demais nações que queriam nos destroçar. Após muito esforço, consegui pacificar o país, restaurar a democracia e tornar mais felizes meus cidadãos, mas os traiçoeiros romanos nos puseram em guerra novamente. Eles se aproveitaram do tratado de livre passagem, que lhes demos para aniquilar os egípcios, e invadiram nosso território, não deixando que desfrutássemos nem um ano de paz.

Hoje de manhã eu fui para a guerra. Não estava de farda nem plugado no computador. Eu não queria essa guerra e nem fiz esforço para provocá-la, mas eu tive que ir. Estou com muito medo, estou com o pressentimento de que irei morrer. É muito tempo em guerra e eu já não agüento mais. É muita batalha atrás de batalha, eu quero paz. É muito tempo em guerra. Deve ser a minha sina, eu não queria ser guerreiro, mas parece que foi o que escolheram para mim. Eu já não agüento mais, eu sinto muito medo. Eu não acredito em guerreiros que não tenham medo.

Hoje à noite eu acabo com os romanos.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Irraciossinos

"Eu sei que eles tem razão
Mas a razão é só o que eles tem"
- "Cidade em Chamas", Humberto Gessinger


Discussão boa é aquela que não chega a lugar nenhum. Apenas chega-se à conclusão do ponto de discórdia, o ponto em que ninguém abre mão. Nada como uma boa discussão para fazê-lo entrar em depressão...

A velha discussão sobre pena de morte e o velho intelectualzinho tentando iluminar os medíocres que não sabem discernir o racional do emocional. O Estado, que serve para proteger a vida dos indivíduos, ganha, com a pena de morte, ou a instituição do assassinato, a licença para matar. Não seria isso uma contradição? Dar o direito de matar a quem tem o dever de garantir a vida? Mas eles dizem: pena de morte resolve tudo. Olha só a democracia que tanto defende, proto-candidato a déspota esclarecido, olha! Eles têm a liberdade de se expressar como quiserem, inclusive de expressar idéias que podem fazer mal a eles mesmos.

Se tem tanta gente assim que defende pena de morte, por que, então, ela não está instituída? E não vivemos numa sociedade democrática? Que raio de democracia é esta em que não se faz a vontade da maioria?

Que retórica medíocre, meu velho! Desdenhar da democracia é um predicado típico dos déspotas, se esqueceu? E essa espada hobbesiana que empunhou para atacar a pena de morte? O Leviatã é soberano, você sabe disso: se ele quiser, ele mata!

É só você que não quer saber que eles têm razão...