segunda-feira, agosto 28, 2006

O Poderoso Catarseador Subversivo

Putaquepariu! A trilogia "O Poderoso Chefão" é o de melhor que eu já vi do cinema!

Tudo bem, não vi no cinema, vi no DVD. Ontem. Ah, tudo bem, pode ser que haja e que eu já tenha visto coisa melhor no cinema, mas agora, não me recordo de nada melhor.

Aliás, problema de memória tem sido o meu problema ultimamente. Não só ultimamente, mas também, eu diria, "penultimamente", "antepenultimamente"...

Ah, mas meu último problema tem sido a minha secura. Que secura? Secura! Não consigo mais terminar texto nenhum. Estou em outra crise de criatividade. Que criatividade? (Agora me peguei...) Tenho diversas idéias, mas são todas tranqueiras, não consigo descer nada para o papel. É romance, é conto, é até crônica. A última que escrevi, e a última que consegui finalizar, achei-a tão deprimente que não tive coragem de publicar. Ah, chega de complexo de inferioridade! Quando percebi que era um outro meu inferior baixando naquele texto, enrubesci. Fiquei com vergonha de exibi-lo.

E depois, quer dizer, antes dessa crônica, teve o texto do Scliar que enrolou minha psique e, acredito, disparou o outro inferior que ressurgiu. Percebam, eu só faço catarse. Eu penso que faço arte, mas não, é só catarse. Catarse, catarro, escarros, tudo para me aliviar. Me aliviar do quê?

Mas quem não viu "O Poderoso Chefão", pelamordedeus!, vejam! É do caralho! O filme é uma aula de política. Maquiavel aplaudiria de pé se assistisse ao filme no cinema. Aliás, foi um professor meu quem primeiro falou do filme. À época, não pude assistir, mas sempre tive em mente os comentários do Gildão.

Algumas pílulas sobre a saga de Michael Corleone para instigarem vocês. "Não odeie seus inimigos. Atrapalha o raciocínio”.Fantástico! "Quando eles vierem atacar, atacarão aquilo que mais ama”.Gênio, gênio!

Fiquei excitado do começo ao fim da série de três filmes. Michael Corleone, brilhantemente interpretado por Al Patino, é a simbiose de Nicolau Maquiavel com Sun-Tzu ianque-siciliano. Aliás, como é linda a Sicília de meus pais! Meu sangue siciliano fervilhou de emoção com algumas passagens do filme acontecidas por lá.

Bueno, pode até ser que eu seja mesmo um mero "catarseador", mas não adianta eu não querer ser subversivo. Se não tenho nenhuma regra para quebrar, quebro as minhas. Nunca falei sobre filme, um tremendo clichê, ou essas coisas que às vezes se dizem quando não se tem nada para escrever, mas agora falei. Tive que falar né? Sem conseguir escrever nada há já algum tempo...

Então, eis cumprida, mais uma vez, a profecia.

sexta-feira, agosto 11, 2006

O texto como catarse

Por Moacyr Scliar

"A palavra mais usada na literatura atual é muito curta: 'eu'. O número de textos escritos na primeira pessoa é cada vez maior e configura uma verdadeira tendência, que já tinha sido antecipada pelo jornalista e escritor Tom Wolfe, quando se referiu aos anos 70 como a 'Me Decade', a década do eu. Na verdade, é a culminação de um longo processo inaugurado pela modernidade que, ao consagrar a noção do indivíduo, possibilitou esse tipo de literatura, praticamente desconhecida no passado. As numerosas narrativas da Bíblia, para ficar só num exemplo clássico, foram elaboradas por autores anônimos que jamais ousariam deixar sua marca pessoal no texto sagrado.

É preciso dizer que esse fenômeno não significa necessariamente egoísmo ou vaidade, pode ser uma reação ao passado que negava individualidades e padronizava os modos de ser. A 'Me Decade' e a literatura do eu representam, assim, uma forma de afirmação pessoal que hoje faz parte do equipamento de sobrevivência dos seres humanos.

A primeira pessoa aparece na literatura de diferentes formas. Quando se trata de ficção, é um personagem imaginário, um disfarce não raro tênue para o próprio narrador. Ou então é uma autobiografia. Ou é um depoimento pessoal: alguém falando sobre uma doença que teve, sobre um problema que viveu. A forma de publicação varia. Pode ser um livro. Pode ser um artigo ou uma carta, em jornal. Pode ser um blog.

Vamos pegar o caso da literatura, que é clássico. Quase todos os escritores começam sendo autobiográficos. Com o correr do tempo, adquirem o domínio da forma e a maturidade que permitem criar personagens com vida própria. Mas por que as pessoas escrevem? As respostas variarão. Alguns dirão que vêem na palavra um instrumento de criação estética. Outros, contudo, dirão que sentem necessidade de colocar para fora aquilo que lhes atormenta. Ou seja, uma catarse. A palavra vem do grego e significa purga ou purificação (é claro que os utilizadores da catarse preferirão esta segunda opção).

Pessoas inteiramente felizes não escrevem. Escrever é algo que resulta de algum grau de mal-estar psicológico, de algum grau de neurose. Problemas emocionais não são raros entre os escritores e, em Touched With Fire, a psiquiatra norte-americana Kay R.Jamison colecionou algumas dezenas de casos. Talvez seja uma condição necessária, mas não é uma condição suficiente. Todo Kafka é um neurótico, mas nem todo neurótico é um Kafka, já disse alguém. Freqüentemente sou procurado por pessoas que me dizem: minha vida daria um romance, só que eu não sei escrever este romance.

Pois é. A diferença entre catarse e literatura é esta: literatura é obra de quem tem intimidade com as palavras, de gente que sabe usá-las de forma original e criativa. Mas isto não deve obscurecer o fato de que escrever é bom para todo mundo. Livro, blog, diário íntimo, e-mails, cartas, não importa: escrevam. Escrever é uma forma de auto-interrogação, No mínimo ajuda a pessoa a descobrir quem ela é."

Fonte: clique aqui

quarta-feira, agosto 09, 2006

Lua cheia da manhã

Hoje de manhã eu vi a lua cheia. Hoje de manhã eu vi a lua cheia. Enfatizo porque eu não me lembro de ter visto antes uma lua cheia assim, às seis horas da manhã... É, acho que nunca vi mesmo. De qualquer forma, eis o registro.

Após trinta dias de férias, voltei à minha rotina usual. Acordar cedinho, ir trabalhar, voltar tarde para casa e dormir. Por isso, saí de casa meio tristonho, meio animado (depois de trinta dias de folga, não tenho desculpa né? tenho que voltar ao batente com ânimo, pelo menos), entrei no carro, liguei o rádio e parti, ouvindo as notícias do dia. Fui ouvindo o de sempre. Israel batendo no Líbano, preparativos para a final da Libertadores, porta de avião que despenca no telhado de supermercado, deputados sanguessugando a coisa pública, a agenda dos candidatos, os ataques do PCC... Eis que olhei para o céu e me deparei com a lua. Cheia. Mas cheiona mesmo. Bem grande, lá no alto, para todos não deixarem de ver.

Será mesmo que eu nunca vi uma lua assim?... Ah, não me lembro mesmo! Mas me senti reconfortado. Pareceu que ela me dizia "boa sorte!". Ou que ela me dava consolo. Um consolo a esse novo dia que voltava a viver. Um novo dia cheio de velharias.